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Inovação na construção civil – Entrevista Cristiano Kruel, Startse

Oportunidades e desafios para a inovação na construção civil no mercado brasileiro

Cristiano Kruel, Head of Innovation da StartSe, fala sobre o panorama da inovação na construção civil, destaca os desafios para inovar no Brasil e dá dicas práticas para empresas do mercado construtivo adotarem um posicionamento mais inovador 

Inovação é algo que envolve experimentar e assumir riscos. E isso só é possível com um modelo de gestão que oferece liberdade para os profissionais testarem e errarem, além de processos ágeis e flexíveis para que ideias possam ser desenvolvidas constantemente. 

Ou seja, um cenário bem diferente dos processos de gestão conservadores e rígidos que por muito tempo regeram o mercado de construção civil. Aliás, não é à toa que o setor é um dos mais lentos na adoção de inovações digitais

Contudo, nos últimos anos, sinais de mudanças nesse sentido passaram a ser observados, indicando que a construção civil caminha rapidamente para um cenário mais adepto à tecnologia e à inovação.

O crescimento constante das construtechs e das proptechs – startups de tecnologia voltadas aos segmentos imobiliário, de engenharia e de construção –, por exemplo, é prova dessa revolução pela qual estamos passando.

Na prática, essa evolução da inovação na construção civil significa que, atualmente, além dos fornecedores tradicionais (como, por exemplo, encanadores, marceneiros e eletricistas), as empresas deste setor podem contar também com parceiros da área de tecnologia para o desenvolvimento mais eficiente das obras.

Neste sentido, o advisor de startups e transformação de negócios Cristiano Kruel aponta que os empresários do setor estão cada vez mais conscientes do alto preço a se pagar pela falta de inovação.

“Alguns argumentam que as margens apertadas e os frequentes altos e baixos na construção inibem os investimentos em coisas novas. Coisas novas carregam incerteza e, portanto, possuem risco. Inovação é risco! Mas o problema que hoje inquieta a todos é ‘qual é o risco de não encarar o risco de inovar?’”, reflete o Head of Innovation da StartSe, empresa que busca preparar e conectar profissionais, empreendedores e empresas com a Nova Economia acelerada.

A equipe de comunicação da Celere conversou com Kruel para aprofundar o debate sobre esse tema e entender o panorama da inovação na construção civil no Brasil.

Acompanhe a entrevista e saiba mais sobre as oportunidades e o potencial da inovação na construção civil. Além disso, entenda quais são os desafios para que a inovação avance no mercado construtivo brasileiro.

CELERE – Poderia falar um pouco sobre o seu trabalho na StartSe? 

Cristiano Kruel – Inovação na construção civilCristiano Kruel – Eu tenho colaborado com o time da StartSe desde 2016. A StartSe é uma organização não convencional, e uma de suas características é que possui pouca hierarquia. Logo, é normal encontrarmos agentes internos que trabalham em diversas frentes, o que lembra grupos pequenos e ágeis (os chamados squads). Eu mesmo trabalho com diversos times e frentes, mas minha posição oficial é Head of Innovation. 

Ou seja, eu tenho o mandato de liderar a empresa em termos de “inteligência”, e a missão é hackear o conhecimento do mundo para:

a) Criar conteúdos excepcionais sobre a nova economia.

b) Modelar métodos educacionais rápidos e convenientes para acelerar o aprendizado de empresários, empreendedores, gestores e profissionais inovadores.

c) Conectar e desenvolver os “meisters”, ou seja, os mestres e professores da StartSe que participam dos nossos programas educacionais e ajudam a acelerar a nossa inovação e a dos nossos clientes.

Qual é o papel da inovação na StartSe? Como essa questão é trabalhada nas diversas áreas da empresa? 

Inovação possui uma conotação bastante ampla na StartSe, visto que inovação está em supostamente tudo o que a empresa fala, promove e tenta fazer.

Na prática, a empresa toda está sempre inovando, devido à velocidade com que crescemos experimentando novos produtos e práticas. A StartSe é uma máquina de experimentação e isso está no seu DNA desde o início.

Quais são as principais lições que você aprendeu trabalhando com inovação? 

O primeiro grande aprendizado é que quanto mais você aprende coisas incríveis, mais você se dá conta de que não sabe nada.

Mas uma coisa importante que eu aprendi – ou talvez era uma crença anterior e que aqui eu confirmei – é que a aceleração de mudanças teria um ponto de inflexão muito forte e que seria sentido por todos.

Inovação parece sempre conversa de maluco, que está sempre no mundo da lua, sempre no ponto futuro… até que não.

Sabe como é, a mudança sempre ocorreu, mas ela vai acelerando de forma dissimulada, as coisas vão mudando aparentemente num ritmo que a gente entende… mas, de repente: POW! A coisa estoura e lá se vão pelo ralo empresas, profissões, segmentos de mercado e modelos de negócio inteiros.

Na StartSe nós acreditamos que conseguimos entender os principais fundamentos que explicam esta nova lógica de mercado:

– A aceleração da convergência tecnológica;
– As mudanças nos hábitos de consumo e no tabuleiro de competições;
– As novas práticas de gestão e governança;
– E as novas habilidades humanas para se manter profissionalmente relevante. 

É isso que muitas pessoas procuram aprender conosco. Porém, nós não apenas falamos sobre essas coisas, nós utilizamos muitos desses conceitos e ferramentas nas nossas próprias iniciativas. Ou seja, como dizemos aqui: we walk the talk (fazemos o que falamos).

Observe o que estamos vivendo neste momento: inesperado e inédito.

Ninguém previu e ninguém viveu isso antes. O que vivemos hoje parece comprovar (de maneira dramática) a nova realidade: mudanças aceleradas e transformações frequentes serão “o novo normal” na vida profissional e empresarial. Portanto, precisamos contra-atacar. Precisamos todos aprender mais rápido, urgente e reiteradamente. Não é possível mais aprender apenas olhando para o passado. Precisamos questionar o passado, trocar a lente para entender o futuro e ter coragem, agilidade e velocidade para atuar no presente.

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Agora falando sobre o mercado de construção especificamente, na sua visão, quais foram os principais avanços em termos de inovação na construção civil nos últimos anos? 

Inovação na construção civil – desafios e oportunidades

Tivemos inúmeras inovações na construção nas últimas décadas. Surgiram equipamentos incríveis, materiais, métodos construtivos, CAD, BIM, VDC (Virtual Design and Construction).

Mas, por outro lado, vemos que muitas práticas da construção não mudaram muito.

A indústria da construção é considerada uma das menos inovadoras dentre todas as indústrias. Além disso, estudos mostram que, enquanto a produtividade de outros setores cresceu, a do mercado de construção caiu.

Alguns argumentam que as margens apertadas e os frequentes altos e baixos na construção inibem os investimentos em coisas novas. Coisas novas carregam incerteza e, portanto, possuem risco. Inovação é risco! Mas o problema que hoje inquieta a todos é “qual é o risco de não encarar o risco de inovar?”.

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Quais são os obstáculos para que a inovação na construção civil possa avançar mais? 

Acho que existem situações particulares da indústria, mas, de maneira geral, as barreiras da inovação na construção civil são as mesmas em todas as empresas.

Podemos discutir longamente sobre métodos, processos, modelos financeiros, tecnologias… Porém, talvez a coisa mais importante de todas seja: tenha um time incrível.

Sim, tudo está relacionado a gente. Ponto!

Como você enxerga a evolução do mercado de construtechs e proptechs no Brasil? O que podemos esperar nessa área em um futuro próximo e no longo prazo?

Alguns acham que startups são empresinhas legais, de tecnologia, pequeninas e até brincadeira de jovens. 

Porém, não é assim que nós as enxergamos. Dois pensamentos:

Primeiro, as startups representam o maior fenômeno de democratização da inovação a que já assistimos. A lógica é que ficou muito mais barato empreender, e isso viabilizou muitos novos experimentos (startup = experimento) e acelerou como nunca o ritmo de inovação no mundo.

Segundo, startups poderiam ser vistas como uma nova ciência de gestão, muito pertinente a projetos inovadores, mas talvez não tão eficiente para projetos replicadores.

Startup é o Entrepreneurial Management, enquanto o que domina as empresas é o General Management. Acreditamos que as empresas que vão vencer no futuro são aquelas capazes de equilibrar esses dois mindsets na mesma organização.

As construtechs, proptechs e condotechs continuarão surgindo em todos os lugares. Portanto, as empresas estabelecidas precisam aprender a conviver, criar, acelerar, contratar, investir e adquirir startups. Até porque ninguém mais inova sozinho, é preciso inovar de forma aberta e conectada ao ecossistema.

As startups utilizam diversas “armas secretas”:

– São fanáticas pela experiência do cliente;
– Não possuem legado, então podem começar do zero;
– Focam em vencer nos nichos e depois escalar. 

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Quais são os principais entraves para o avanço da inovação na construção e, consquentemente, das proptechs e das construtechs? 

Inovação na construção civil – desafios e oportunidades

Para que ecossistemas de inovação na construção (e em outros mercados) possam florescer são necessários três ingredientes:

1) Know-how. É preciso ter experiência e conhecimento de mercado, entender de tecnologia, etc.;
2) Capital. É necessário ter acesso a recursos que financiem os experimentos e a aceleração de conquista de mercado;
3) Rebeldia. A coragem de buscar soluções radicalmente diferentes.

Embora o tema de startups já esteja bem mais popular no Brasil que há cinco anos, ainda temos muito para fazer para chegar próximo aos grandes clusters de inovação do mundo. Eu chamaria atenção especialmente para o Vale do Silício, Israel e China. 

Nesse sentido, existem muitos entraves, mas aqui eu destacaria:

– Legislação complexa e exagero de regras que inibem pensar e fazer diferente;
– Baixa maturidade dos investidores sobre os reais fundamentos de Venture Capital;
– Conhecimento tecnológico e disponibilidade de pessoas capacitadas em tecnologias;
– Ceticismo dos empresários e empresas “tradicionais” que se acostumaram a ter sucesso de uma forma e, portanto, não apostam e aceleram o processo de inovação com as startups. 

Como as empresas do mercado de construção podem identificar tendências e tecnologias que devem impactar os processos, as funções e a inovação na construção civil nos próximos anos? 

Acho que existem três dicas que podem ajudar todos a encontrarem novas oportunidades:

– Questione os fundamentos básicos dos negócios existentes. Digamos, por exemplo, que somos uma revenda de automóveis. Então, se as pessoas não quiserem mais comprar e desejarem passar apenas a alugar, devemos ainda dizer que revendemos automóveis?;

– Observe os diversos ativos que têm pouco uso no que você faz ou possui. O Uber, por exemplo, parece ter percebido que os automóveis eram ativos de muito valor e eram subutilizados.

– Entenda e pegue impulso nas macrotendências. Por exemplo: moradia está se tornando serviço?

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Por falar em dicas, quais são as suas dicas para as pequenas e médias empresas que entendem a importância da inovação na construção, mas não sabem por onde começar a inovar? 

Você precisa ser uma máquina de aprendizado. Separe o seu portfólio de ações em três horizontes:

1. Curto prazo. Identifique as coisas que impactam este ano e crie e gerencie projetos; faça isso agora.

2. Médio prazo. Identifique potenciais desafios e oportunidades que parecem estar nos próximos anos. Como estes têm mais incerteza, não crie projetos, mas crie “experimentos”; faça isso agora.

3. Longo prazo. Visite lugares e empresas de fora da sua indústria para perceber o que de “inacreditável” pode ocorrer lá no futuro distante; então, crie “planos de investigação e aprendizagem”; faça isso agora.

Gerenciar no curto prazo é fácil. Gerenciar no longo prazo também é fácil. O difícil é gerenciar no curto e longo prazos simultaneamente.

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Aqui na Celere, nós acreditamos que a inovação na construção civil deve começar pelos processos de gestão. Afinal, como Kruel ressaltou na entrevista, ter uma gestão mais empreendedora, que apoie a experimentação e seja mais flexível, é fundamental para que as organizações possam inovar mais.

Nesse sentido, sabemos que muitas empresas de construção são conservadoras em relação aos seus processos e são resistentes a mudanças. E se a inovação significa arriscar mais, grande parte dos gestores prefere manter as coisas do jeito que estão…

Contudo, em um mercado em constante evolução, o maior risco de todos é não inovar, não acompanhar as movimentações e tendências do setor.

É importante entender que a tecnologia pode ser uma aliada importante nessa transição. Por meio de ferramentas digitais, os líderes e profissionais da construção civil podem inovar de maneira mais segura, arriscando de forma mais estratégica.

Peguemos como exemplo as tecnologias de dados.

Essas ferramentas ajudam a transformar dados de diferentes fontes em informações relevantes, que indicam maneiras de inovar na gestão das obras e se diferenciar no mercado.

Aliás, é exatamente isso que o Budget Analytics proporciona!

Essa é a ferramenta de gestão de obras desenvolvida pela Celere ao longo dos últimos cinco anos e da participação em mais de 130 projetos. Os quatro pilares que sustentam o B.A. – base única de informações, volume de dados, dados inteligentes e rastreabilidade – proporcionam: 

1) Total segurança no orçamento. Afinal, a rastreabilidade dos custos de construção gera confiabilidade e tranquilidade que tudo foi considerado;

2) Otimização dos projetos, já que o maior volume de dados faz com que as empresas tomem novas e precisas decisões, possibilitando foco total na otimização do projeto e na redução de custo de construção; 

3) Previsibilidade. Não só sabendo que o orçamento “para em pé”, ou seja que você não terá surpresas durante a obra, mas ainda com ele otimizado, com uma meta de custo de obra muito enxuta.

Na prática, com o Budget Analytics é possível saber quanto custa cada metro quadrado da obra, com a identificação dos custos dos insumos envolvidos na precificação de cada centímetro do projeto.

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Imagens: rawpixel.com, Martin Wilner para Unsplash

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