Entenda o conceito de bioarquitetura, veja como ele é aplicado em três grandes projetos (um na Espanha, um na Itália e um na China) e inspire-se a pensar cada vez mais na sustentabilidade de suas construções
Não são poucos os motivos que tornam essencial a preocupação com a sustentabilidade e com o meio ambiente em projetos de construção civil.
Para você ter uma ideia, levantamentos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente indicam que:
– Entre os setores mais responsáveis pela emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, o setor de construção é o que tem o maior potencial para reduzir significativamente a emissão de tais toxinas.
– Através de medidas como desenvolvimento de edifícios com maior eficiência energética e utilização de energia renovável, o mercado de construção poderia salvar até 84 gigatoneladas de CO2 até 2050.
– O setor de construção tem o potencial de gerar uma economia de energia de 50% ou mais até 2050, contribuindo para a desaceleração do aquecimento global.
Além disso, o principal benefício apontado por profissionais e empresas de construção que estão investindo em processos e materiais mais sustentáveis foi a redução de custo. 65% dos entrevistados do levantamento World Green Building Trends 2018 indicaram que reduziram seus custos operacionais ao aderir práticas mais “verdes”
Isso sem falar, é claro, da demanda dos consumidores por soluções mais sustentáveis…
Porém, muita gente ainda tem a visão de que construir de forma sustentável não é nada fácil. Contudo, é possível, sim, trabalhar de forma eco-friendly no setor de construção civil.
Neste sentido, há um conceito que pode ser um grande aliado tanto de arquitetos quanto de engenheiros. Estamos falando da bioarquitetura.
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Entendendo o conceito de bioarquitetura
O conceito de bioarquitetura não é exatamente novo. Estima-se que a bioarquitetura tenha surgido na Europa na década de 1970. Porém, com o aumento dos problemas ambientais ao redor do mundo nos últimos anos, a pauta voltou a entrar em vigência como uma das possíveis soluções para melhorar a condição de vida do nosso planeta.
Nada mais justo. Afinal, segundo dados divulgados pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, a construção civil é responsável globalmente por:
- 30% da geração de lixo sólido.
- 20% do consumo de água.
- 35% de toda a energia consumida.
Ou seja, por ter um impacto tão grande no meio ambiente, é importante que as empresas desse setor ajam para evitar que seus processos piorem os problemas ambientais globais já tão relevantes atualmente.
Neste sentido, a bioarquitetura se apresenta como uma aliada no desafio que é projetar edificações que cumpram com os pré-requisitos de sustentabilidade (como a economia de água e energia elétrica, ventilação, iluminação e resíduos sólidos).
A ideia da bioarquitetura é mostrar que além de ser necessário, também é possível para o ramo de construção civil construir edificações que permitam que tecnologias contemporâneas e arquitetura vernacular – forma de construir que aproveita os recursos naturais do ambiente da construção – sejam utilizadas em conjunto para oferecer não apenas uma estrutura esteticamente agradável, mas, principalmente, um ambiente com a melhor qualidade habitacional possível.
Principais características dos projetos de bioarquitetura
- Casas com janelas amplas para auxiliar na ventilação natural;
- Placas fotovoltaicas para reter os raios solares e transformá-los em energia elétrica limpa;
- Captação da água da chuva para ajudar reduzir o consumo dos recursos hídricos.
Estas são apenas algumas das características dos projetos de bioarquitetura. Elas, aliás, reforçam um dos principais objetivos da bioarquitetura, que é reduzir o consumo de energia elétrica. Para isso, procura-se aproveitar recursos naturais à disposição – como a luz solar, por exemplo.
Essa maneira de projetar e construir edificações, mesmo que não seja exatamente nova, ainda encontra-se em estágio inicial no Brasil.
E, como tudo que envolve o setor de construção civil, demanda um razoável período de tempo para que um profissional possa estar devidamente capacitado para começar a desenvolver projetos com essas características.
Para que um projeto de bioarquitetura seja bem-sucedido, é necessário um estudo sério sobre a paisagem do local onde ele será inserido, para então escolher quais tecnologias e materiais deverão ser utilizados.
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3 exemplos de projetos de bioarquitetura pelo mundo
A melhor forma de entender de verdade o conceito de bioarquitetura é “visitando” alguns projetos que são amostras claras dele. Caso, por exemplo, dos três que apresentamos a seguir. Embarque nessa viagem pelo mundo com a gente!
Sagrada Família – Barcelona (Espanha)
Conhecida como a Igreja em construção desde a sua concepção (há mais de um século!), a basílica Sagrada Família é um dos exemplos clássicos de bioarquitetura no mundo.
Antonio Gaudi, o gênio por trás desta obra-prima, buscou garantir que a cidade um dia fosse identificada pela Igreja. E basta olhar para a foto abaixo para perceber que ele conseguiu esse feito.
A Sagrada Família é um organismo concreto que respira e se transforma bem diante de nossos olhos, apresentando um retrato da evolução constante da natureza.
Uma das sensações que o visitante da Sagrada Família experimenta é a de estar em uma selva. O dossel de ornamentação usado nas abóbadas, nas colunas e no exterior aderem à verticalidade que Gaudi tentou alcançar em seu estilo arquitetônico.
A técnica de ornamentação empregada na Igreja também tenta unir a essência de que a natureza está impregnada de importância espiritual como exemplo de bioarquitetura.
Estádio Nacional de Pequim, Ninho do Pássaro – Pequim (China)
O palco de abertura da Olimpíadas de 2008 é um excelente exemplo de bioarquitetura. Afinal, tudo é pensado para trazer o lado bio para o projeto. Tanto que sua estrutura é inspirada em um ninho de pássaro – inclusive, é assim que o Estádio Nacional de Pequim é conhecido.
Este projeto – que venceu a competição para ser o principal estádio do Jogos Olímpicos – foi idealizado por dois arquitetos suíços, Herzog & de Meuron, e pelo artista Ai Weiwei.
As diretrizes originais do programa de competição incluíam uma capacidade de estádio para 100 mil pessoas, um teto retrátil, um design multifuncional para hospedar uma série de atividades, inclinações para a tendência de construção verde e aderência à tecnologia avançada. O aço torcido envolve o estádio com uma tigela interna de assentos de concreto, e entre eles fica a área do saguão público.
Edifício Bosco Verticale – Milão (Itália)
O Edifício Bosco Verticale é uma demonstração de que é possível criar e construir projetos sustentáveis nas grandes cidades. Ele oferece a sensação de se morar dentro de uma floresta de concreto, na segunda maior cidade italiana.
O grande diferencial do Edifício Bosco Verticale é sua cobertura verde composta por mais de 900 árvores, duas mil plantas e quatro mil arbustos. Ela cobre os dois edifícios residenciais, que ao todo são compostos por 113 apartamentos.
Porém, não é “só” isso. Essa cortina verde se adapta e se transforma a cada mudança de estação. Ou seja, no inverno, quando as folhas começam a cair, o edifício absorve uma quantidade maior de luz; já no verão, como as plantas estão mais robustas, a temperatura dentro de cada ambiente é mais baixa. Dessa forma, de acordo com cada estação do ano, o Bosco verde garante o melhor aproveitamento energético.
Além disso, os prédios também possuem painéis fotovoltaicos, aumentando ainda mais a autossuficiência energética do local.
Bons exemplos, não é mesmo?
Esperamos que eles os inspirem a buscar novas e diferentes formas de colocar seus planos em ação. O futuro do planeta agradece – e, acredite, sua marca, seu caixa e seus clientes, também!
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