Relatório da KPMG analisa desafios da construção e ajuda a entender os pilares para um futuro seguro e resiliente
No mês passado, a KPMG, uma das principais consultorias do mundo, publicou o relatório 2023 Global Construction Survey.
Essa, que é a décima quarta edição do estudo, contou com insights de aproximadamente 300 participantes do mundo todo – incluindo gestores de projeto e empresas de engenharia e construção.
Dois terços dos respondentes (66%) afirmam estar otimistas em relação ao rumo do mercado da construção, sendo que 38% dos proprietários de projetos estão “muito otimistas” – em comparação com apenas 18% em 2021.
Na avaliação da KPMG, a indústria da construção vive um momento de “otimismo cauteloso”. Entre os fatores que levam a isso estão:
- Estímulos governamentais em infraestrutura;
- A revolução das energias renováveis;
- O aumento dos investimentos de capital em setores estrategicamente importantes que criaram excelentes oportunidades para o setor.
A seguir, apresentamos alguns dos destaques do levantamento, que ajudam a mapear tendências para o setor de construção civil e a planejar o futuro.
Os desafios da construção civil – e como superá-los
De acordo com a Global Construction Survey 2023, entre os principais desafios que representam obstáculos para o crescimento e o sucesso da indústria da construção estão:
- Ambiente volátil
- Desempenho inadequado de projetos
- Baixa produtividade
- Falhas custosas em projetos importantes
- Requisitos Ambientais, Sociais e de Governança (ESG)
- Dilema tecnológico
- Escassez de mão de obra qualificada
O estudo sugere que várias ações precisam ser tomadas para superar esses desafios, com destaque para:
1) Obter uma visão mais clara do risco do portfólio e evitar assumir projetos que possam prejudicar a empresa.
Aqui, cabe destacar a importância de desenvolver orçamentos precisos desde o início de cada projeto.
Como diz Raphael Chelin, CEO da Celere, “o orçamento paramétrico existe para ajudar o incorporador a viabilizar negócio bom e não viabilizar negócio ruim”.
Entenda o que isso significa lendo este artigo.
2) Aprimorar a transparência e utilizar análise de dados para compreender a interdependência de riscos e identificar riscos emergentes mais cedo.
3) Melhorar a produtividade por meio do uso de sensores IoT e análise de dados para detectar e avaliar problemas, possibilitando tempos de resposta rápidos e minimizando atrasos e excessos de custos.
4) Criar benchmarks para o desempenho da equipe por meio de dados compartilhados.
5) Implementar manutenção preditiva para aumentar a probabilidade de equipamentos pesados permanecerem operacionais e minimizar paralisações.
6) Acessar dados de fornecedores para antecipar atrasos ou escassez na cadeia de suprimentos e buscar fontes alternativas.
7) Impulsionar eficiência e eficácia de capital por meio de processos robustos de planejamento e gestão de portfólio integrados às atividades de governança de projeto e PMO.
8) Utilizar painéis e indicadores-chave de desempenho (KPIs) para monitorar o status e o desempenho de projetos e portfólios.
Essas ações visam enfrentar os desafios e aprimorar o desempenho geral e a produtividade da indústria de engenharia e construção.
Grandes tendências: ESG e tecnologia
Nos últimos anos, a indústria da construção passou a olhar com mais atenção para a agenda ESG.
Analisando esse fato, Firuzan Speroni, Diretor de Infraestrutura, Projetos de Capital e Consultoria em Clima na KPMG dos Estados Unidos, declarou:
“O ambiente construído gera cerca de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e consome aproximadamente 40% dos recursos energéticos globais. Portanto, não é surpresa que a pressão regulatória e dos stakeholders relacionada a ESG esteja aumentando”.
Além disso, o executivo registra no relatório que a indústria também mudou seu pensamento desde a Pesquisa Global de Construção de 2008. Na ocasião, segundo ele, “a sustentabilidade era vista principalmente como um veículo de lucro”. Agora, uma proporção maior de líderes vê ESG como um elemento central da estratégia de negócios.
“O próximo passo é operacionalizar os princípios ESG em projetos de capital para aumentar a eficiência e sustentabilidade, reduzir o desperdício, evitar o greenwashing, mitigar riscos e aumentar o valor a longo prazo para todos os stakeholders”, indica.
Na visão dos participantes da pesquisa, entre os principais benefícios que o ESG pode trazer para o mercado de construção estão a melhoria da reputação e vantagem competitiva, bem como uma necessidade de aprimorar o acesso ao capital do projeto.
A tecnologia e a corrida pela inovação na construção
Data analytics, BIM, impressão 3D, realidade virtual, realidade aumentada, inteligência artificial, gêmeos digitais e drones. Essas são algumas das tecnologias que entraram no radar do estudo* da KPMG.
Na tabela abaixo, você entende como as empresas de engenharia e construção avaliam seu nível de adoção em 17 tecnologias:
Além disso, o estudo traz dados que mostram que a indústria da construção está começando a utilizar cada vez mais a tecnologia para transformar o desempenho.
- 81% das empresas de construção e engenharia adotam plataformas móveis;
- 43% utilizam automação de processos por meio de robótica (RPA);
- 40% adotam inteligência artificial (IA), embora muitas estejam nas fases iniciais.
Quando se trata de melhorar o retorno sobre investimento (ROI) em projetos de capacidade, os sistemas de informação de gerenciamento de projeto (PMIS), a modelagem de informações de construção (BIM) e análises de dados avançadas são considerados como tendo o maior potencial; já gêmeos digitais, fabricação modular, IA e BIM estão impulsionando os maiores ganhos no desempenho do projeto.
E ainda, há um reconhecimento crescente do poder da tecnologia para melhorar a segurança – principalmente pelo uso de D&A (data and analytics) e manufatura modular, que reduz os perigos no local de trabalho.
Neste sentido, Clare Lunn, Sócia da KPMG nos EUA, destaca que treinamento de segurança e troca de informações estão se beneficiando cada vez mais da tecnologia e dos softwares que envolvem os colaboradores e capacitam os trabalhadores a comunicar os riscos.
“Dispositivos inteligentes, como pulseiras e capacetes conectados, permitem que os trabalhadores sejam mais proativos em seus processos de segurança, compartilhem informações sobre perigos e possíveis incidentes em tempo real, tudo isso promovendo uma cultura de segurança positiva”, conclui.
*A Celere está de olho nessas tecnologias há bastante tempo, tanto é que já publicamos artigos específicos sobre algumas delas. Para ler, basta clicar nos títulos abaixo:
- Digital twins na construção civil – mundo real e virtual combinados para gerar mais eficiência
- Exemplos de realidade virtual e realidade aumentada na construção civil
- E-book gratuito sobre BIM
- Drones na construção civil: uma (r)evolução em andamento
- Impressão 3D na construção civil: cenário atual e perspectivas de futuro
- 20 sistemas que mostram a evolução da inteligência artificial no setor de construção