Saiba como funcionam os testes de controle tecnológico do concreto e entenda o que é preciso analisar durante esses ensaios
A qualidade na construção está diretamente relacionada ao nível de controle de serviços e materiais realizado em cada uma das etapas do projeto.
Em se tratando de materiais, um dos itens mais relevantes e que merecem atenção especial é o concreto – inclusive, é importante ressaltar que assegurar a qualidade desse elemento é ainda mais crucial em casos em que o concreto tem função estrutural.
Para garantir que o concreto tenha as funcionalidades e características ideais para assegurar a qualidade e durabilidade do projeto é preciso realizar o controle tecnológico do concreto.
O que é o controle tecnológico do concreto
O controle tecnológico do concreto é um processo no qual se realizam diversos tipos de testes para verificar a qualidade dos materiais que compõem o concreto. A partir dessas análises, é possível verificar se o material entregue no canteiro possui as propriedades esperadas e definidas no projeto estrutural.
O principal objetivo do controle tecnológico do concreto é garantir o bom desempenho da estrutura e evitar problemas que possam afetar a vida útil do projeto. Além disso, esse processo permite analisar parâmetros técnicos das amostras e identificar a situação real em relação à qualidade e resistência.
Os testes realizados durante esse processo avaliam parâmetros como, por exemplo:
- Resistência à compressão;
- Módulo de elasticidade;
- Absorção de água;
- Efeitos sob temperaturas;
- Consistência;
- Proporções de preparo.
A partir da análise desses parâmetros, é possível saber se o concreto atende aos requisitos das normas de qualidade e aos objetivos da obra.
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Tipos de concreto
Existem diversas formas de se produzir concreto, e entender isso é fundamental na hora de realizar o controle tecnológico deste material.
O tipo de concreto pode variar de acordo com a sua origem e modo de fabricação. Sendo assim, podemos dividi-los em: concreto virado em obra e concreto dosado em central.
Como o nome sugere, o concreto virado em obra é produzido no canteiro de obras – geralmente usando uma betoneira estacionária.
Já o concreto dosado em central é produzido por uma usina. Esse, aliás, é o tipo mais utilizado pelas construtoras quando as obras precisam de um grande volume de concreto.
As usinas produzem o concreto de acordo com as especificações do projeto. Os componentes são adicionados dentro do caminhão betoneira: água, cimento, agregados e possivelmente um aditivo são misturados no equipamento para formar o concreto. Esse caminhão, então, se direciona à obra, onde acontecem os testes de controle tecnológico do concreto.
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Normas que indicam os requisitos de qualidade do concreto
Quando se fala em analisar qualidade do concreto, é importante entender quais são as especificações que o material deve seguir. E é a ABNT NBR 14931 (Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento) que indica quais requisitos e normas de qualidade é preciso levar em conta. São eles:
- A preparação do concreto deve atender aos critérios de controle da qualidade previstos na ABNT NBR 12655.
- Quando se tratar de concreto dosado em central, além dos requisitos da ABNT NBR 12655, o concreto deve estar de acordo com o que estabelece a ABNT NBR 7212.
- No controle da qualidade dos materiais componentes do concreto é preciso obedecer o disposto na ABNT NBR 12654.
Principais ensaios realizados no controle tecnológico do concreto
Segundo o manual da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Construção Civil (Abratec), o que determina os tipos e a quantidade de testes são:
- O nível de qualidade que se pretende atingir;
- O grau de exposição a atmosferas agressivas;
- A vida útil da obra.
Neste sentido, basicamente, os três grandes grupos de ensaios que é possível realizar para determinar a qualidade do concreto são:
- Testes realizados nos materiais constituintes do concreto: agregados, aditivos etc.;
- Testes que avaliam o concreto fresco: determinação de consistência, exsudação e tempos de pega, por exemplo;
- Ensaios que conferem as propriedades do concreto endurecido: resistência à tração, módulo de elasticidade e absorção de água.
Além disso, outra análise importante é o teste que se realiza no momento da entrega do concreto no estado fresco (abatimento) e que deve acontecer em todas as betoneiras entregues na obra.
Controle tecnológico do concreto no estado fresco
Estes são os passos para realizar o controle do concreto em estado fresco, assim que o caminhão betoneira chega na obra.
1) Verificação da nota fiscal
Antes de tudo, verifique se o endereço está correto, para garantir que aquele é o caminhão que traz o concreto específico para seu projeto.
Depois, é importante anotar o horário em que o caminhão saiu da usina e o horário em que chegou na obra (para analisar o tempo de pega).
2) Inspeção do lacre do caminhão
Nessa etapa, confira se o lacre do caminhão betoneira está intacto e se o número do lacre é o mesmo que está na nota fiscal.
O lacre garante que o volume de concreto que chegou na obra é o mesmo que saiu da usina – com o volume que você solicitou. Se o lacre estiver rompido, rejeite o concreto. Afinal, diversas situações podem ter acontecido durante o trajeto que podem ter prejudicado a qualidade e diminuído a quantidade do material.
3) Análise das características do concreto
Esse é o momento de assegurar que o concreto tem as especificações demandadas pelo projeto. Se, por exemplo, sua empresa solicitou oito metros cúbicos de um concreto de fck (que é a resistência característica) de 30 Mpa e slump de 120, você vai conferir na nota o fck informado, o volume e o slump.
Entenda melhor a seguir.
Slump test
O slump test é o ensaio de consistência que deve-se realizar antes da aplicação do concreto. Esse teste deve ser feito para analisar a qualidade do concreto dosado em central, mas também recomenda-se a execução dele no controle do concreto virado na obra.
O slump test analisa a trabalhabilidade do concreto. Além disso, verifica se é possível utilizá-lo para concretar peça específica na obra.
Funciona assim:
Uma amostra do concreto é coletada e com ela se preenche uma peça em formato de cone com as seguintes dimensões: diâmetro inferior de 20 cm, diâmetro superior de 10 cm e altura de 30 cm (com a maior base voltada para baixo).
É preciso realizar este preenchimento de uma maneira específica, conforme descrito na NBR NM 67: três camadas, com 25 golpes em cada uma. Esse procedimento é necessário para fazer o adensamento correto do concreto dentro do cone.
Depois de preencher o cone, é necessário medir o abatimento, que é a diferença entre a altura do cone e a altura do concreto após a remoção.
Esse valor de abatimento varia segundo a aplicação do concreto:
- Para volumes grandes e com pouca armadura – como em sapatas e blocos de fundação, por exemplo –, o slump mínimo é de 4 cm.
- Para vigas, pilares e lajes com lançamento de concreto manual ou por caçambas, o slump mínimo varia entre 6 e 8 cm.
- Já para concretos bombeados, pela mobilidade exigida, os limites inferiores sobem para a faixa de 8 a 12 cm.
É importante ficar atento ao slump especificado na nota fiscal, que descreve o intervalo limite para mais ou para menos.
“Se o slump test especificado em nota fiscal é o 10+-2, significa que o limite para a descarga é de 12 cm. Se o ensaio de abatimento em obra obtiver 14 cm como resultado, significa que o concreto está mais fluido do que deveria, ou seja, recebeu mais água em sua composição do que o estabelecido em laboratório e este caminhão deve ser recusado”, explica Luana Scheifer, gerente Técnica da Votorantim Cimentos.
Contudo, já se o slump estiver abaixo do limite especificado, é possível realizar alguns procedimentos para tentar fazer com que ele chegue no intervalo que você deseja.
Nessa situação, verifique na nota fiscal o limite de água adicional (geralmente a usina remove um pouco de água do traço e deixa como reserva para usar nesse tipo de problema).
Se a nota especificar que o limite de água adicional é de 50 litros, por exemplo, esse é o volume máximo de água que você pode adicionar para tentar atingir o slump correto.
É preciso ter atenção nesse procedimento. Recomenda-se adicionar a água aos poucos, já que adicionar água acima do recomendado vai baixar consideravelmente a resistência do concreto, causando problemas estruturais.
No entanto, caso já tenha adicionado o limite de água permitido e ainda não tenha obtido o slump ideal, o concreto deve ser rejeitado.
Flow test
Outro ensaio para controlar a qualidade do concreto em estado fresco é o flow test, ou o teste de espalhamento.
Essa análise verifica a classe de fluidez dos concretos autoadensáveis. Diferentemente do slump test, em que o ensaio analisa o abatimento do tronco de cone, no flow test a amostra se espalha em uma placa metálica.
Dependendo da dimensão deste espalhamento, o concreto será classificado em uma das três classes: SF1, SF2 ou SF3. “O flow test é o principal ensaio para concreto autoadensável para verificar se a fluidez corresponde ao que foi especificado”, indica Luana Scheifer.
Atenção à frequência dos testes para controle do concreto fresco!Para o concreto virado em obra, é preciso realizar ensaios de consistência sempre que ocorrerem alterações na umidade dos agregados, e também nas seguintes situações:
Para o concreto dosado em central, é preciso realizar ensaios de consistência a cada betonada. |
Controle tecnológico do concreto no estado seco
Para fazer o controle do concreto no estado endurecido é preciso moldar corpos-de-prova (CPs), realizar ensaios e fazer alguns cálculos para determinar se o concreto está aprovado ou reprovado.
O primeiro passo é fazer a divisão dos lotes. Quem define essa divisão é o responsável pela concretagem, e ela precisa atender os requisitos da ABNT 12665.
É possível realizar o controle de resistência do concreto em estado endurecido por amostragem parcial ou por amostragem total.
A amostragem total normalmente é feita quando o concreto é dosado em central. Para isso, retiram-se amostras para formar exemplares de cada caminhão betoneira.
Já a amostragem parcial é feita quando é virado na obra. Para isso, retiram-se amostras para formação de exemplares aleatórios.
Para cada um destes tipos uma forma de cálculo do valor estimado da resistência característica dos lotes de concreto é prevista. Na amostragem parcial, o número de exemplares é no mínimo 6 para concreto de resistência à compressão entre 10 e 50 Mpa, e no mínimo 12 para concretos acima de 50 Mpa. Na amostragem total não há limite para a quantidade de exemplares.
É possível encontrar mais detalhes e especificações técnicas dos cálculos necessários para essa etapa na ABT 12665.
5 erros comuns no controle tecnológico do concreto
Em um evento online realizado pelo Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), especialistas apontaram algumas das principais falhas em relação ao controle tecnológico do concreto. Dentre elas, destacamos:
1) Confundir controle tecnológico de produção de estruturas de concreto com controle de resistência
O engenheiro do Ibracon Pedro Bileski alerta que o melhor caminho para evitar esse erro é seguir as especificações na norma técnica NBR 14931 (Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento). Além disso, ele destaca que a escolha correta da empresa de concretagem é fundamental para evitar esse erro.
2) Trabalhar apenas com resultados de ensaios de fornecedores
Gilberto Giuzio, que também é engenheiro do Ibracon, aponta que é importante o construtor ter o seu próprio controle. Além disso, ele recomenda a contratação de um laboratório para fazer essa checagem. “Não se deve aceitar única e exclusivamente o resultado do fornecedor”, salienta.
Nesse sentido, aliás, Bileski chama a atenção para o item 10.2 da ABNT NBR 14931. “Esse trecho da norma diz o seguinte: é obrigação do construtor conhecer a resistência do concreto e se ela está em conformidade com o que o projetista recomendou. Ou seja, existe obrigação normativa.”
3) Não realizar mapeamento
Por fim, os especialistas salientam que uma das falhas mais comuns no controle do concreto é a falta da realização do mapeamento. “Esse é um erro grave. Ele causa custos maiores para corrigir a principal consequência do problema, que é a diferença na resistência da estrutura. Neste caso, não realizar o mapeamento é a mesma coisa que não fazer o controle tecnológico do concreto”, frisa o engenheiro Adriano Damasio.
➔ Assista o webinar na íntegra.
Como contratar empresas e profissionais qualificados para realizar o controle tecnológico do concreto
A contratação de serviços qualificados para realizar o controle tecnológico do concreto é um investimento importantíssimo para garantir a qualidade, a segurança e a durabilidade da obra.
Ao escolher um laboratório especializado, é crucial verificar se ele possui acreditação junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
O selo do Inmetro indica que a empresa possui controle de qualidade dos procedimentos que envolvem os ensaios realizados, estrutura que atende às normas técnicas, controle de calibração de equipamentos e profissionais capacitados.
Controle é a palavra-chave para o sucesso de um projeto de construção
Como você pode perceber, o controle da qualidade do concreto é uma prática complexa, mas extremamente necessária para assegurar que a obra não tenha problemas estruturais futuros – causando prejuízos financeiros e na reputação da construtora.
Esse mesmo nível de controle é fundamental em todas as áreas e etapas de um projeto de construção.
Uma gestão eficiente, com foco na qualidade e na adequação dos materiais e serviços às necessidades e demandas da obra, garante a finalização com sucesso do projeto e que uma vida útil longa ao empreendimento.
Para ajudar as empresas de construção a realizarem essa gestão qualificada, a CELERE desenvolveu uma metodologia exclusiva de Acompanhamento e Controle.
Assim como o controle tecnológico garante a qualidade e durabilidade do concreto, o método de Acompanhamento e Controle da CELERE assegura a qualidade da execução da obra em todas as áreas e etapas do projeto.
Informações: Inova Civil; Escola de Engenharia; Qualitab; Massa Cinzenta; Mapa da Obra; AEC