A interoperabilidade e a hierarquia BIM facilitam a integração de dados e a comunicação entre equipes na construção, reduzindo retrabalhos e permitindo orçamentos mais precisos. Entenda como isso funciona, na prática
Durante o 6º Incorpod, webinar promovido pela Celere, especialistas discutiram como o uso do BIM pode contribuir para a colaboração entre as áreas de projeto e orçamento, melhorar a operação e otimizar a produtividade.
Abrimos essa cobertura falando sobre a importância dos alinhamentos iniciais para aproveitar o potencial do BIM e garantir que o modelo seja útil para todas as fases da construção. Agora, detalharemos o que os participantes falaram sobre o fluxo de informações ideal para garantir um projeto em BIM bem estruturado e integrado entre todas as áreas. Acompanhe!
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Trabalho colaborativo em BIM e a importância do alinhamento entre as áreas de projeto e orçamento
Interoperabilidade BIM
Raquel Fachini, coordenadora de projetos da Alfa Engenharia, lembra que, antes do BIM, a comunicação entre equipes de projeto era confusa e restrita a poucos profissionais. Além disso, apenas os envolvidos diretamente compartilhavam informações, o que gerava conflitos descobertos apenas na obra, aumentando custos e retrabalho.
Com o BIM, ela indica, todas as informações do projeto são centralizadas em um único local, chamado modelo federado.
Esse modelo integra todos os dados necessários para o desenvolvimento do projeto, facilitando a comunicação entre as equipes e permitindo a resolução de dúvidas e problemas durante o projeto.
Contudo, a especialista esclarece que, para que o BIM funcione plenamente, as diferentes ferramentas e softwares utilizados pelas equipes de projeto, orçamento e execução precisam ser compatíveis entre si. Ou seja, é necessário que haja interoperabilidade.
“A interoperabilidade BIM é, basicamente, a comunicação entre diferentes arquivos em um ambiente comum de dados.
Para evitar problemas na integração do BIM, utiliza-se o formato IFC, um padrão de dados comum e independente de fornecedores de software.
Esse formato permite que todas as equipes trabalhem simultaneamente. Assim, é possível compartilhar informações completas do projeto – incluindo materiais, tabelas e planilhas –, o que ajuda a identificar e corrigir interferências ainda na fase de planejamento, antes da execução da obra”, detalha.
Hierarquia BIM
Ainda falando sobre questões importantes para garantir a integração completa em projetos BIM, os convidados do Incorpod #6 falaram sobre a hierarquia BIM, uma maneira de organizar e classificar os elementos e informações no modelo.
Essa estrutura permite que todos os envolvidos no projeto entendam a disposição e função de cada elemento, facilitando a navegação e o acesso aos dados relevantes do projeto.
Mauro de Couet, diretor executivo e sócio da Alfa Engenharia, detalha que a hierarquia BIM organiza as disciplinas de projeto, integrando arquitetura, estrutura, hidrossanitário, prevenção contra incêndio e elétrico em uma sequência coordenada.
Baseando-se em um exemplo de um projeto desenvolvido pela Alfa, ele explica que, na prática, a hierarquia BIM funcionaria assim:
- O processo começa com o projeto arquitetônico, que estabelece a base para todas as outras disciplinas.
- Em seguida, desenvolve-se o projeto estrutural para garantir a estabilidade do edifício, podendo demandar ajustes no layout inicial.
- Depois, o projeto hidrossanitário organiza os sistemas de esgoto, drenagem e água, prevendo interferências com a estrutura.
- O projeto de prevenção contra incêndio vem em seguida, definindo saídas de emergência e sistemas de proteção, o que também pode impactar o layout.
- Por fim, finaliza-se o projeto elétrico, integrando demandas como subestações e infraestrutura para veículos elétricos, fundamentais em edificações maiores.
“Cada fase da hierarquia BIM garante a integração e compatibilidade dos diferentes sistemas e reduz conflitos que, sem o BIM, poderiam ser descobertos apenas na execução da obra, resultando em custos e retrabalhos elevados”, reforça Mauro.
Nesse sentido, os participantes do webinar citaram vários exemplos práticos para demonstrar a importância da integração e coordenação entre as disciplinas no modelo BIM.
Contraventamento e pilares
Em edifícios altos, a estrutura influencia o layout arquitetônico. A hierarquia BIM define que a estrutura se inicie após a arquitetura. Porém, nesse caso (edifícios altos), é fundamental que a estrutura comece antes da aprovação do projeto. Dessa forma, é possível ajustar elementos como contraventamento e pilares sem comprometer o design.
Reservatórios de água
Como parte da hierarquia BIM, o projeto hidrossanitário se inicia após a definição arquitetônica, para evitar interferências; porém, o alinhamento inicial é fundamental. Por exemplo: a arquitetura coordena a localização dos reservatórios, para assegurar o espaço necessário.
Gerador de energia
A localização do gerador deve se alinhar com os projetos de arquitetura e hidrossanitário. Afinal, sem essa coordenação, ele poderia ocupar o mesmo espaço dos reservatórios. No BIM, a hierarquia organiza a sequência das disciplinas para evitar esses conflitos.
Preventivo contra incêndio
Na hierarquia BIM, o projeto preventivo contra incêndio se integra às fases iniciais do desenvolvimento, pois influencia diretamente a arquitetura e a estrutura. Neste sentido, é preciso coordenar a instalação de um elevador de emergência, a compartimentação das lajes e a exigência de escadas pressurizadas em edifícios altos com o layout arquitetônico e os elementos estruturais para garantir a segurança e o cumprimento das normas desde o início do projeto.
Infraestrutura para Veículos Elétricos (Elétrico)
Devido à demanda por carregadores de veículos elétricos, é preciso instalar subestações que impactam o projeto elétrico, o layout de vagas e o valor geral do empreendimento (VGV). A hierarquia BIM define que o projeto elétrico comece em etapas finais, mas ressalta a importância de sua integração com as outras disciplinas para viabilizar as adaptações necessárias o mais cedo possível, minimizando os impactos em layout e em prazos de projetos.
Mesmo quando os projetos não foram pensados em BIM, existe uma alternativa
Raphael Chelin, CEO da Celere, diz que ainda há uma grande lacuna no mercado em relação à adoção de todos esses processos necessários para alcançar o real potencial da integração BIM.
“Muitas vezes, o que observamos é que, quando os projetos não são todos desenvolvidos em BIM, com hierarquias bem definidas, a inviabilidade do empreendimento só é descoberta quando os projetos estão prontos e a obra está prestes a começar. Isso é algo que vemos acontecer com frequência”, comenta.
O engenheiro conta que, pensando nesse contexto, a Celere desenvolveu metodologias de orçamento que se adequam a cada fase do ciclo de incorporação e se baseiam diretamente nas informações do modelo BIM, em vez de usar apenas estimativas por metro quadrado.
“Nossa solução envolve padronizar e importar todos os modelos e parâmetros para uma plataforma interna. Ela automatiza medições e cálculos a partir do modelo BIM, consolidando os quantitativos diretamente na estrutura orçamentária. Exportamos esse banco de dados em Excel, permitindo rastreabilidade de cada serviço, torre, pavimento e unidade”, explica.
Para projetos que não foram desenvolvidos em BIM ou estão incompletos em termos de dados, a Celere utiliza modeladores internos para criar modelos BIM ou ajustar modelos existentes. Essa abordagem possibilita entregar um orçamento em BIM 5D até mesmo para empresas que não trabalham diretamente com essa metodologia. Isso, por sua vez, garante um orçamento detalhado e uma visualização precisa dos custos e da execução.
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