Todo projeto, não importa o tamanho, tem suas particularidades e dificuldades. Mas quando se trata da construção de edificações gigantes, esses desafios se multiplicam de acordo com a extensão da obra. Os riscos se tornam maiores e os erros custam mais caro. Por isso, fazer uma gestão eficiente é ainda mais crucial nesse cenário. Mas como é possível ter eficiência na gestão de grandes projetos de engenharia?
Tim McManus tem as respostas que podem matar sua curiosidade e oferecer lições preciosas para gestão de obras de qualquer segmento. Ele é vice-presidente da área de projetos e infraestrutura da consultoria internacional McKinsey e especialista em gestão de megaprojetos de infraestrutura.
Baseado em sua experiência e em estudos nessa área, McManus aponta quatro maneiras de garantir sucesso na gestão de obras gigantescas. As informações e dicas, porém, podem ser utilizadas por gestores de obras de qualquer porte. Acompanhe!
1 – Gerencie mais do que tempo e orçamento
É claro que é importante que a obra seja entregue no prazo e que os gastos não ultrapassem o limite. No entanto, de nada adianta entregar um projeto na data estipulada e com as finanças em dia, se a estrutura não estiver adequada – ou seja, se o projeto não cumprir seu propósito.
Pense, por exemplo, em um aeroporto que suporta menos pessoas que a capacidade estipulada inicialmente porque seu projeto sofreu corte de custos durante a construção – mas, mesmo assim, foi entregue no prazo e dentro do orçamento. Não faz sentido, certo? Como destaca o especialista, não dá para ignorar questões relacionadas à funcionalidade. “Todos esses fatores devem ser definidos, testados, comprovados e gerenciados desde o início do planejamento. Para isso, o gestor deve nomear alguém para monitorar quão bem o projeto atende a todos os requisitos”, aconselha McManus.
Raphael Chelin Pinheiro Machado, sócio da Celere, complementa: “Vale destacar que é mais provável que isso ocorra em obras públicas. Em obras privadas é mais difícil. O que pode acontecer em obras privadas, nesse caso, é ficar pouco funcional para operar e manter (mas falaremos melhor sobre isso no item 4)”.
2 – Aplique o método mais apropriado para cada projeto
Especialmente em grandes obras públicas, o especialista em gestão de megaprojetos de infraestrutura afirma que é comum os profissionais aplicarem um modelo padrão de desenvolvimento do projeto – visando, geralmente, a segurança e o controle dos gastos.
No entanto, ele alerta que mesmo em obras similares, as condições dos projetos podem ser diferentes, o que exige adaptação dos métodos de construção e entrega. Nesse sentido, McManus explica que é preciso avaliar uma gama de fatores, tais como permissões e regulamentações, controle do terreno, prioridades do proprietário, análise geotécnica e subterrânea, capacidade da empresa e dos fornecedores, grau de risco e potencial de mudanças. “Esse tipo de avaliação pode esclarecer qual método de entrega se encaixa no perfil daquele projeto”, salienta.
“É normal do mercado, principalmente em pequenas e médias empresas, utilizar a experiência de outros projetos para estimar a realidade do próximo projeto. Como falamos no checklist para uma obra eficiente e lucrativa, é importante fazer a lição de casa de engenharia do seu projeto específico”, acrescenta Machado.
3 – Equilibre os riscos entre as partes envolvidas
Todo projeto de construção envolve riscos. A melhor maneira de lidar com eles é fazendo uma parceria entre o contratante (o cliente) e a empresa que está desenvolvendo o projeto. Dessa maneira, encarando os riscos de forma clara, objetiva e colaborativa, a obra acaba ganhando mais segurança.
McManus aponta que, quando o contratante tenta colocar toda a responsabilidade em cima da empresa de construção, essa última parte, claro, vai tentar se defender, incluindo políticas de segurança mais rigorosas, custos com seguros, fundos de contingência etc. Por fim, isso pode gerar disputas e atrasos, prejudicando o projeto.
“Essa, inclusive, é uma dica valiosa para baixar os custos do projeto. É negociação pura: colocar todos os interesses na mesa, avaliar as preocupações (riscos) de cada parte e trabalhar juntos para contorná-las. No fim das contas, quem contrata é corresponsável pelo projeto, por mais que não o execute. Então, não adianta tentar repassar todas as responsabilidades dos riscos para o contratado. Com isso, é a obra que perde”, comenta Machado.
→ Negociação, inclusive, é uma das habilidades que consideramos essenciais para o sucesso do engenheiro do futuro. Por isso mesmo, apresentamos 5 dicas para ajudá-lo a negociar melhor neste artigo.
4 – Conte com especialistas operacionais e de manutenção em todas as fases do projeto
O especialista da McKinsey alerta que muitos erros no desenvolvimento do projeto acontecem porque decisões são tomadas sem que os profissionais que operam e fazem a manutenção da obra sejam consultados. Ele destaca que contar com a visão dos especialistas em operação e manutenção desde o início do planejamento da obra ajuda a garantir que não só o projeto seja finalizado com sucesso, mas também que todos os envolvidos estejam preparados.
“É muito importante que isso seja levado em conta em qualquer tipo e porte de obra. Muitas vezes, quem faz o projeto não executa a obra, e quem executa a obra não opera e nem dá manutenção. Esses processos totalmente independentes costumam deixar lacunas graves, que resultam em empreendimentos com muitas ineficiências, uma vez que cada parte está preocupada com seus problemas, não com o todo.
Lembrando que o projetista leva dois ou três meses para fazer seu trabalho em obras menores, enquanto que a construtora leva aproximadamente dois anos para construir e o responsável pela manutenção opera durante 50 anos. Com esses números, a lógica diz que a parte impactada pelo tempo é a operação/manutenção, que na maioria das vezes não participa da concepção do projeto”, conclui o sócio da Celere.
Lições valiosas, não é mesmo?
Independentemente do porte dos projetos de construção realizados em sua empresa, certamente elas podem oferecer insights para aprimorar a gestão das obras. Reflita sobre tudo isso, repense seus processos e conquiste resultados cada vez melhores!
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Informações: McKinsey&Company