Conheça os desafios enfrentados na construção do Museu do Amanhã e saiba quais são os diferenciais que tornam essa obra única
Um edifício que alia sustentabilidade, arte, história e futuro. Assim é o Museu do Amanhã, um projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que integra tecnologia de ponta e natureza, respeitando o meio ambiente e protegendo o bioma em torno da edificação.
Esta obra faz parte de um projeto de renovação da região portuária do Rio de Janeiro (fica no Píer Mauá) e é reconhecida globalmente como um dos prédios mais sustentáveis do mundo. Inclusive, o projeto recebeu o selo Ouro na certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações. Tal reconhecimento é resultado de uma série de soluções sustentáveis presentes no edifício, que levou em conta o impacto da construção do prédio e também como ele afeta o seu entorno.
Diferenciais de Sustentabilidade do Museu do Amanhã
Entre os destaques de sustentabilidade da obra do Museu do Amanhã estão, por exemplo:
- A tecnologia empregada na captação da energia solar – painéis fotovoltaicos instalados na cobertura metálica do prédio se movem de acordo com a trajetória do sol;
- O uso das águas da Baía de Guanabara como trocador de calor no sistema de ar-condicionado. Inclusive, estima-se que 9,6 milhões de litros de água e 2.400 mega watt/hora (MWh) de energia elétrica sejam economizados anualmente por causa dessa solução – o que seria suficiente para energizar quase 600 residências.
Segundo a Casa do Futuro, responsável pela consultoria de sustentabilidade no Museu do Amanhã, o grande diferencial dessa estrutura é o sistema que “libera” o calor retirado dos ambientes para as águas da Baía de Guanabara.
O nome técnico do recurso é hidrotermia. As águas são retiradas da baía, recebem o calor do sistema de ar-condicionado e são devolvidas ao mar. Todo esse processo não agride o meio ambiente. Para respeitar as limitações de variação da temperatura das águas, uma nova mistura acontece para resfriar a água antes que ela volte para a baía no lado nordeste do píer.
A utilização da hidrotermia faz com que o museu não precise de torres de arrefecimento no sistema de climatização. Isso quer dizer que são economizados até 4 mil litros de água por hora!
Além disso, a água de pias, lavatórios, chuveiros e chuvas é tratada e reutilizada, assim como a água proveniente da desumidificação do ar (o pinga-pinga do ar condicionado). Esta desumidificação pode render 4 mil litros de água ao dia.
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Diálogos com a natureza e o futuro no Museu do Amanhã
Espelhos d’água, jardim, ciclovia e área de lazer cercam o Museu do Amanhã, numa área total de 34,6 mil m² do Píer Mauá.
Segundo Calatrava, o desenvolvimento do edifício levou em conta a proposta de o local de ser um museu para o futuro, como uma unidade educativa. Nesse sentido, no livro que leva o mesmo nome do museu, Calatrava destaca que a arquitetura e a sustentabilidade presentes no projeto incentivam a discussão de temas como utilização da energia solar, novas formas da arquitetura moderna, relação com a paisagem da cidade e recuperação da Baía de Guanabara.
“Um passeio ao redor do Museu é uma lição de sustentabilidade, de botânica, uma aula do que significa energia solar. O edifício é como um organismo e se relaciona diretamente com a paisagem”, reflete o arquiteto.
O escritório Burle Marx assina o projeto de paisagismo do museu. Espécies nativas e de restinga compõem o jardim, com o objetivo de ressaltar as características da zona costeira da cidade do Rio de Janeiro, facilitar a adaptação da vegetação, atrair mais a fauna da região e reforçar o aspecto didático do jardim.
Em 5.500 m² de área plantada, há 26 espécies diferentes – como, por exemplo, ipês roxo e amarelo, quaresmeira, pau-brasil e pitangueira, além de arbustos nativos de restinga e palmeiras.
Desafios e características do projeto do Museu do Amanhã
Design de formas única
Cada curva do Museu do Amanhã é única. Esse fator, que torna o projeto tão especial, gerou um dos principais desafios do desenvolvimento da obra. Afinal, para lidar com as curvas que não se repetem, os engenheiros tiveram que elaborar diversas maquetes e simulações em 3D para garantir encaixes perfeitos e um acabamento digno de obra de arte.
Moldes únicos de concreto
Dar vida às formas fluidas do projeto também foi um grande desafio. Isso porque, enquanto em uma obra tradicional pode-se utilizar a mesma forma de concretagem de oito a 10 vezes, no caso do Museu do Amanhã, cada forma foi usada somente uma vez, por conta do ângulos únicos do design.
Mais concreto por metro cúbico
Um edifício comum usa de 90 a 100 quilos de aço por metro cúbico de concreto. Contudo, segundo os responsáveis pelo projeto, o Museu do Amanhã demandou muito mais concreto: a construção utilizou 250 quilos de concreto por m³. Além disso, a obra emprega um total de 22 mil m³ de concreto armado.
Posição da cobertura metálica
Outro obstáculo desse projeto foi a disposição da cobertura metálica – que pesa 3.810 toneladas. A cobertura avança em grandes balanços – 70 metros de comprimento em direção à Praça Mauá e 65 metros sobre o espelho d’água voltado para a Baía da Guanabara –, que exigiram ensaios em túnel de vento para garantir a dinâmica correta.
Fundação reforçada
Por fim, para suportar a imensa estrutura de concreto e aço, inicialmente projetou-se a utilização de mil estacas na fundação. Porém, com a magnitude do projeto, esse número teve que ser revisto. Ao todo, a fundação do Museu do Amanhã utilizou 2.500 estacas.
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