Entenda o que é pegada hídrica, saiba o que essa análise leva em conta e conheça o guia que revela uma metodologia para calculá-la
Qual é o volume de água que você consome diariamente?
Para descobrir a resposta a essa pergunta, não basta simplesmente calcular quantos copos de água toma por dia e qual volume de água utiliza para fazer comida, tomar banho e limpar a casa, por exemplo.
Além disso, é importante entender que a maioria dos produtos que utilizamos e consumimos também utilizam água em sua produção. Alimentos, roupas, embalagens: tudo isso (e muito mais) depende desse recurso para existir.
Ou seja, indiretamente, nosso consumo de água é muito maior do que imaginamos.
Na construção civil também é assim!
Em uma construção, além da água usada no canteiro de obras, esse recurso também é extensivamente utilizado na produção de materiais cruciais para qualquer projeto – como cimento e aço, por exemplo.
O Guia de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações, desenvolvido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), tem justamente o objetivo de calcular a quantidade de água consumida direta e indiretamente nos processos da construção civil, levando em conta todas as fases e materiais envolvidos no projeto.
A seguir, entenda melhor o que é a pegada hídrica (PH) e como ela está relacionada ao mercado de construção civil. Além disso, saiba como funciona o cálculo da PH proposto no guia do SindusCon-SP.
O que é pegada hídrica
Pegada hídrica é uma metodologia que avalia os impactos humanos sobre os recursos hídricos. Esse indicador analisa o comprometimento direto e indireto de água ao longo do ciclo de vida de produtos, usuários, empreendimentos, empresas, cidades, países etc.
Segundo o professor israelense Arjen Hoekstra, responsável pela criação desse conceito:
Pegada Hídrica (PH) é um indicador do uso de água que considera não apenas o seu uso direto por um consumidor ou produtor, mas, também, seu uso indireto, podendo ser considerado como um indicador abrangente da apropriação de recursos hídricos. A PH de um produto, por exemplo, é o volume de água utilizado para produzi-lo, medido ao longo de toda cadeia produtiva.
Esse conceito vem ganhando força e sendo aprimorado nos últimos anos pela Water Footprint Network (WFN), responsável pela publicação do Manual de Avaliação da Pegada Hídrica, material que serve como referência para todos os trabalhos nessa área.
A WFN detalha que esse é um indicador multidimensional, que mostra os volumes de consumo de água por fonte e os volumes de poluição pelo tipo de poluição.
Nesse sentido, há três tipos de pegada hídrica:
🔵 Pegada hídrica azul (PHazul)
A PHazul se refere à água “perdida” em determinado processo, geralmente por evaporação ou incorporação ao produto. Está relacionada à agricultura, indústria e ao uso doméstico.
🟢 Pegada hídrica verde (PHverde)
Água precipitada, armazenada no solo, evaporada, transpirada ou incorporada pelas plantas. Relevante para produtos agrícolas, horticultura e florestais ou para a irrigação.
⚪️ Pegada hídrica cinza (PHcinza)
É a quantidade de água doce necessária para assimilar poluentes e atender aos parâmetros de qualidade da água. Considera a poluição de fonte pontual lançada a um curso de água doce diretamente ou indiretamente através de escoamento superficial ou lixiviação do solo.
A pegada hídrica do mercado de construção
No mercado de construção, o cálculo da PH leva em conta tanto atividades e processos que ocorrem no canteiro de obras (uso de água para cura de concreto, preparo de argamassas, testes hidrostáticos, usos sanitários etc.) como o consumo para produção dos materiais empregados na construção.
Segundo um levantamento do World Business Council for Sustainable Development, o mercado de construção é responsável por cerca de 5% do consumo global de água. E diversas análises ao redor do globo apontam para o fato de que grande parte da água utilizada neste setor relaciona-se à produção de materiais (ou seja, em usos indiretos).
Os materiais que contribuem de forma mais relevante à pegada hídrica do setor são: concreto, cimento (no concreto e/ou em outras aplicações) e aço. Além disso, vidro, argamassa e tubos de PVC também pesam no cálculo da PH.
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Avaliação da pegada hídrica em Edificações
O Manual de Avaliação da Pegada Hídrica da WFN é bastante generalista e aponta metodologias de cálculo de PH de forma mais ampla.
Já o Guia de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações, desenvolvido pelo SindusCon-SP, usa como base as recomendações da WFN, mas foca especificamente nos processos mais relevantes para o contexto da construção civil.
Nesse sentido, a metodologia do material do SindusCon-SP segue duas etapas centrais:
1) Definição de metas e escopo:
Esclarecimento dos objetivos da avaliação de PH
Em termos de escopo, o guia indica que o estudo da PH engloba desde o projeto – ou seja, a concepção do edifício – até o final de sua vida útil. Com isso, consideram-se os processos dentro dos limites da própria edificação – seja durante a obra ou o uso –, bem como as etapas envolvidas na cadeia de suprimentos para a edificação.
2) Cálculo da pegada hídrica:
Quantificação dos recursos hídricos apropriados
O cálculo de PH divide-se em duas fases diferentes do ciclo de vida de uma edificação: a construção do edifício (PHobra) e o uso durante sua vida útil (PHuso).
Além disso, consideram-se as PH conforme sua origem: direta e indireta.
- A PH direta se refere às apropriações de água que ocorrem ou resultam diretamente de processos que ocorrem dentro dos limites do escopo geográfico (edificação) definido;
- A PH indireta, por sua vez, contempla as apropriações que ocorrem, no caso deste estudo, fora do canteiro, traduzidas pelos materiais empregados na construção da edificação.
Observações importantes para a análise da Pegada Hídrica de uma obra:
Levantamento de dados
O primeiro e indispensável passo para a determinação da PH é a coleta, a análise e o processamento dos dados necessários à sua contabilização. Além disso, é fundamental fazer a manutenção de registros permanentes e a atualização das informações relativas à gestão de recursos hídricos, seja para a gestão de água em canteiro ou para a avaliação de pegada hídrica.
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Identificação dos materiais mais relevantes
Como a própria metodologia da WFN e os estudos específicos no tema de PH para edificações indicam, em geral, uma pequena parcela dos processos (ou materiais) corresponde a praticamente a totalidade da PH de um produto.
Por isso, é importante ponderar quais são os materiais mais influentes no edifício em termos quantitativos e quais apresentam melhor base de dados de coeficientes de pegada hídrica (CPH)
Uso da curva ABC
A curva ABC pode ser utilizada como ferramenta para identificar os materiais prioritários a serem considerados para cálculo, utilizando dados constantes em orçamento (especificação do material, preço e quantidade) e valores CPH disponíveis.
Segundo o guia do SindusCon-SP, por exemplo:
- Materiais como concreto, aço, esquadrias, blocos, argamassa, tinta e gesso usualmente possuem pesos relevantes nos orçamentos, correspondendo em conjunto a mais de 50% do total.
- Somente concreto e aço juntos representam entre 20 e 40% dos custos totais das obras.
- Aço, concreto e argamassa correspondem a quase 90% do total, em termos de PH.
Quer saber mais sobre a metodologia para calcular a pegada hídrica em seus edifícios? ➡️ Baixe o Guia do SindusCon-SP.
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