Enquanto incertezas travam parte dos investimentos, programas habitacionais e varejo de materiais ajudam a manter o setor em movimento
Confiança empresarial em queda, pressão nos custos e cautela nos investimentos formam um pano de fundo desafiador para o início do segundo trimestre na construção civil, mas não paralisam a engrenagem.
Em meio à instabilidade, o mercado imobiliário mantém ritmo, as vendas de cimento crescem e os materiais de construção seguem em recuperação, sustentando expectativas positivas para o restante do ano.
A seguir, nos aprofundamos nas seguintes notícias que marcaram o setor em abril:
- Índice de Confiança da Construção recua e atinge menor nível em três anos.
- Puxado pela mão de obra, custo da construção sobe 0,59%.
- Indústria do cimento cresce no primeiro trimestre, mas projeções para 2025 indicam cautela.
- Mercado imobiliário mantém ritmo de crescimento com alta nos lançamentos e vendas.
- Setor de materiais de construção cresce 7,3% em março e segue em trajetória de recuperação.
Além disso, A Economia B foi até Paris para cobrir o ChangeNOW – principal evento de soluções para os desafios socioambientais que o planeta enfrenta – e compartilha os insights de um painel sobre os resultados do Barômetro de Construção Sustentável, relatório desenvolvido pela Saint-Gobain.
Acompanhe!
Índice de Confiança da Construção recua em abril e atinge menor nível em três anos
O Índice de Confiança da Construção (ICST) caiu 1,4 ponto em abril, para 93,6 pontos, o menor patamar desde março de 2022, segundo dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE).
A queda interrompe a recuperação observada em março e reflete uma percepção mais negativa tanto em relação ao presente quanto às perspectivas futuras. Na média móvel trimestral, o indicador caiu 0,4 ponto.
A piora dos dois principais componentes do ICST influenciou esse resultado. Vamos aos números:
- Índice de Situação Atual (ISA-CST): caiu 1,6 ponto, atingindo 92,6 pontos – menor nível em mais de dois anos;
- Índice de Expectativas (IE-ICST): cedeu 1,2 ponto, para 94,8 pontos.
Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, o ambiente de maior incerteza econômica tem impactado negativamente a percepção das empresas, sobretudo no volume de contratos e na previsão de demanda.
Além da piora na confiança, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da construção também apresentou retração, caindo 0,8 ponto percentual e fechando abril em 78,7%. Tanto o NUCI de Mão de Obra quanto o de Máquinas e Equipamentos tiveram queda de 0,4 ponto percentual, para 80,1% e 73,2%, respectivamente, indicando desaceleração da atividade no setor.
Apesar da tendência negativa, o segmento de Obras de Infraestrutura ainda demonstra otimismo. Ana Maria Castelo destacou o avanço da confiança entre as empresas de Edificações Residenciais, impulsionado pelas recentes mudanças no programa Minha, Casa Minha Vida, que ampliou o atendimento a famílias com renda de até R$ 12 mil. A expectativa é que os novos investimentos sustentem o desempenho do mercado imobiliário nos próximos meses.
Puxado pela mão de obra, custo da construção sobe 0,59% em abril
O Índice Nacional de Custo da Construção-M (INCC-M) acelerou para 0,59% em abril, ante uma alta de 0,38% registrada em março, informou o FGV IBRE.
No acumulado de 12 meses, o indicador avançou 7,52%, mais do que o dobro da taxa observada no mesmo período do ano anterior, de 3,48%. A alta do mês foi puxada principalmente pelo aumento nos custos com mão de obra.
O grupo de mão de obra apresentou um crescimento expressivo de 0,91% em abril, após alta de 0,35% em março. Já o grupo de Materiais, Equipamentos e Serviços subiu 0,37% no mês, mostrando uma ligeira desaceleração em comparação aos 0,40% de março.
Segundo o FGV IBRE, três dos quatro subgrupos de materiais registraram recuo, indicando uma tendência de suavização nos preços de insumos importantes para o setor da construção.
Entre os custos que mais pressionaram o índice em abril estão os serviços de pintor (1,19%), pedreiro (1,07%) e encanador (1,06%). Também houve alta nos preços de blocos de concreto (0,71%) e elevadores (0,95%). Em contrapartida, alguns materiais apresentaram queda, como vergalhões e arames de aço ao carbono (-1,27%) e telas de aço soldadas para concreto (-0,88%).
Na análise regional, o Índice de Custos da Construção (ICC) em São Paulo registrou alta de 0,51% em abril, acumulando 8,39% nos últimos 12 meses.
Todas as capitais pesquisadas apresentaram aceleração no ritmo de aumento dos custos – com exceção de Porto Alegre (RS).
No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o INCC-M soma alta de 2,21%, reforçando o cenário de pressão nos custos do setor.
Indústria do cimento cresce no primeiro trimestre, mas projeções para 2025 indicam cautela
A indústria brasileira de cimento iniciou 2025 em alta, com vendas de 15,6 milhões de toneladas no primeiro trimestre, crescimento de 5,9% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o SNIC.
O resultado reflete o fortalecimento do mercado de trabalho, a expansão do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) – que já responde por 50% dos lançamentos imobiliários – e o avanço dos segmentos de médio e alto padrão.
Apesar do bom começo de ano, o setor enfrenta desafios importantes. A alta da Selic, a escassez de mão de obra, o crédito imobiliário mais caro e o endividamento elevado da população limitam o potencial de crescimento.
No cenário externo, a instabilidade econômica global pressiona custos de produção, enquanto internamente, a baixa performance de setores como transportes e logística afeta a competitividade. Mesmo com avanços, os investimentos em infraestrutura ainda são insuficientes para impulsionar a demanda de forma consistente.
A agenda ambiental também ganha destaque em 2025, ano em que o Brasil sediará a COP30. A indústria do cimento investe na substituição de combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis e trabalha com o governo na definição de metas de descarbonização e na regulamentação do mercado de carbono, buscando alinhar crescimento econômico e redução de emissões.
Com um primeiro semestre ainda positivo, a projeção para 2025 é de crescimento mais modesto, entre 1% e 1,5%. O desempenho dependerá da evolução da economia, da política monetária e da capacidade de retomada dos investimentos públicos e privados em infraestrutura e habitação.
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Mercado imobiliário mantém ritmo de crescimento com alta nos lançamentos e vendas
O mercado imobiliário brasileiro registrou crescimento expressivo no último ano, com alta de 23,4% nos lançamentos de imóveis e avanço de 13,3% nas vendas, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), divulgados pelo jornal O Globo.
De acordo com a reportagem, o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) impulsionou o setor com aumento de 29,7% nas unidades lançadas e 29,6% no valor dos empreendimentos. No segmento de médio e alto padrão (MAP), os lançamentos cresceram 5,5% em unidades e 20% em valor, reforçando a atratividade desses imóveis.
O Globo aponta ainda que, entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025, as vendas de imóveis novos também apresentaram desempenho positivo. No MCMV, o volume vendido subiu 10,6%, com crescimento de 7% no valor financeiro, enquanto no MAP a alta foi de 16,6% em valor. Esse movimento combinado, de expansão nos lançamentos e nas vendas, contribuiu para a redução dos estoques, que hoje equivalem a 11,8 meses de consumo – um patamar considerado saudável para o setor.
Setor de materiais de construção cresce 7,3% em março e segue em trajetória de recuperação
O setor de materiais de construção manteve a trajetória de crescimento em março, com alta de 0,4% no faturamento em relação a fevereiro e avanço de 7,3% na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo pesquisa da Abramat realizada com dados da FGV e IBGE. A projeção para o fechamento de 2025 permanece positiva, com expectativa de crescimento de 2,8% no ano.
O levantamento também revelou que, em março, o faturamento deflacionado dos materiais básicos cresceu 5,3%, enquanto os materiais de acabamento tiveram expansão ainda maior, de 10,3%, em relação ao ano anterior. Frente a fevereiro, os aumentos foram mais modestos, de 0,2% e 0,5%, respectivamente.
Para Rodrigo Navarro, presidente da Abramat, os resultados reforçam a tendência de recuperação gradual do setor, impulsionada por programas como o Minha Casa, Minha Vida e ações de combate à informalidade. No entanto, ele destaca que o cenário ainda depende de avanços no controle da inflação, redução dos juros e equilíbrio fiscal para sustentar o ritmo de crescimento.
Direto de Paris: o que (ainda) impede a sustentabilidade na construção
Por A Economia B*
Entre os dias 24 e 26 de abril, aconteceu em Paris o ChangeNOW, evento que tem como objetivo apresentar soluções para os principais desafios socioambientais da humanidade.
A Economia B foi até a capital francesa para cobrir o festival e acompanhou de perto a apresentação da nova edição do Barômetro de Construção Sustentável, relatório desenvolvido pela Saint-Gobain.
O levantamento, que ouviu mais de 35 mil pessoas em 27 países, incluindo profissionais da cadeia da construção, autoridades públicas, estudantes e organizações da sociedade civil, aponta que 87% dos profissionais entrevistados afirmam que é preciso fazer mais pela construção sustentável.
Porém, apesar do avanço da consciência ambiental no setor, segundo o estudo, só 35% dos profissionais receberam formação específica sobre sustentabilidade, e apenas 28% dizem compreender plenamente o que está por trás do conceito.
Na visão de Pascal Eveillard, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Saint-Gobain, a falta de capacitação ajuda a explicar o abismo entre intenção e prática no setor. “As soluções já existem. O desafio agora é mobilizar toda a cadeia para colocá-las em prática”, avaliou.

Outra questão que entrou na pauta da apresentação do executivo da Saint-Gobain foi o fato de que o conceito de sustentabilidade na construção segue limitado, para muitos, à questão ambiental.
O barômetro mostra que critérios como eficiência energética, redução de carbono e materiais ecológicos continuam dominando a definição de construção sustentável. Apenas 15% dos respondentes associam construção sustentável ao bem-estar e à saúde das pessoas. Segundo ele, essa é uma lacuna que precisa ser superada se quisermos criar edificações verdadeiramente regenerativas.
Além disso, Eveillard reforçou que a transformação só será possível com mais colaboração entre os diversos agentes da cadeia. “Há silos demais. Precisamos cruzar fronteiras entre investidores, desenvolvedores, arquitetos e governos. A sustentabilidade é global, mas a construção é local – e temos que atuar em ambos os níveis”, disse.
Apesar da certeza de que a construção precisa – e quer – mudar, “a transformação não virá de ações isoladas. Ela depende de colaboração, capacitação e, acima de tudo, vontade de fazer diferente”, concluiu.
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*A Economia B é uma plataforma de conteúdo jornalístico de negócios voltados a ajudar empresas de diversos setores a contribuírem para a construção de um futuro mais justo, equitativo e regenerativo. Na Celere, entendemos a importância da construção civil nesse processo. Por isso, convidamos A Economia B para trazer mensalmente para o Giro de Notícias uma informação relacionada ao nosso mercado que ajude a promover reflexões sobre como fazer isso na prática.