Enquanto o segmento de médio e alto padrão desacelera, programas habitacionais sustentam expectativas positivas na construção civil brasileira
Maio mostrou um setor da construção civil dividido entre avanços no Minha Casa, Minha Vida e um ritmo mais cauteloso entre as incorporadoras de classe média e alta. Apesar do cenário macroeconômico instável, o mercado segue aquecido por programas públicos, consumo de cimento em alta no acumulado do ano e perspectivas de novos investimentos.
No varejo e na indústria, a confiança permanece moderada, mas com planos concretos de expansão. Já no setor imobiliário, as vendas superaram os lançamentos, puxadas pelas novas faixas do MCMV. A seguir, detalhamos as principais notícias do mês:
- Construção civil mostra dois ritmos: desaquecimento no alto padrão e avanço no MCMV, aponta Valor Econômico;
- Vendas de imóveis superam lançamentos no 1º trimestre;
- Setor de materiais segue confiante e planeja investir nos próximos 12 meses;
- Construção civil mantém projeção de crescimento e mostra sinais de reação no início de 2025;
- Vendas de cimento caem em abril, mas setor mantém otimismo com obras e infraestrutura.
Além disso, direto de Paris, A Economia B apresenta três startups que estão ajudando a tornar a construção civil mais sustentável.
Construção civil mostra dois ritmos: desaquecimento no alto padrão e avanço no MCMV, aponta Valor Econômico
As incorporadoras que atuam nos segmentos de médio e alto padrão registraram desaceleração no primeiro trimestre de 2025, segundo levantamento exclusivo do Valor Data com 26 companhias.
As vendas líquidas caíram 4% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto os lançamentos aumentaram 34%. A situação contrasta com o desempenho positivo das empresas focadas no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que apresentaram alta de 49% nos lançamentos e de 17% nas vendas.
De acordo com uma reportagem publicada no jornal Valor Econômico, especialistas do mercado afirmam que ainda não há motivo para alarme, mas destacam a perda de ritmo em vendas e lançamentos no segmento de renda mais alta. Há receio de que os juros elevados do crédito imobiliário impactem a disposição de compra. Apesar disso, a receita total das incorporadoras analisadas cresceu 16% em um ano, enquanto o lucro líquido teve apenas uma leve alta de 0,4%.
No MCMV, os resultados foram impulsionados pela criação da nova faixa 4 do programa, voltada a famílias com renda entre R$ 8,6 mil e R$ 12 mil, com imóveis de até R$ 500 mil. Empresas como Cury, Direcional e Tenda se destacaram com forte geração de caixa, crescimento operacional e melhora de margens. Já a MRV enfrentou dificuldades por causa da operação americana Resia, que tem impactado negativamente os resultados.
Entre as incorporadoras de alta renda, a Cyrela teve receita e lucro abaixo das expectativas, mas manteve bons indicadores de margem e geração de caixa. Moura Dubeux foi destaque na Bolsa, com alta de 86,5% no ano, impulsionada pelas perspectivas positivas de lançamentos. Enquanto isso, empresas como EZTec e Trisul adotaram uma estratégia de cautela em relação ao segmento de classe média, considerado atualmente o mais desafiador do mercado.
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Vendas de imóveis superam lançamentos no 1º trimestre
O mercado imobiliário brasileiro registrou crescimento nas vendas de imóveis no primeiro trimestre de 2025, superando o ritmo de lançamentos no período.
Segundo levantamento feito pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, foram vendidas 102.485 unidades residenciais, alta de 15,7% em relação ao mesmo período de 2024. Já os lançamentos totalizaram 84.924 unidades, um avanço de 15,1% na comparação anual, mas com recuo de 28,2% frente ao último trimestre de 2024.
O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) foi o principal motor desse desempenho, com crescimento expressivo de 40,9% nas vendas em relação ao ano anterior.
Os lançamentos vinculados ao programa superaram os dos demais padrões no trimestre e se concentraram em regiões como Norte, Nordeste e partes do Sudeste, especialmente São Paulo. A ampliação do orçamento do FGTS e os ajustes feitos no programa em 2023 contribuíram para a alta adesão.
Apesar do cenário macroeconômico instável, com juros ainda elevados, o setor mostra resiliência. Especialistas destacam a maturidade do mercado e a capacidade produtiva das empresas, mas alertam para a necessidade de mais crédito à produção.
Setor de materiais segue confiante e planeja investir nos próximos 12 meses

Apesar das oscilações nas vendas, a indústria de materiais de construção mantém a intenção de investir.
De acordo com a última edição do Termômetro Abramat, 59% das empresas associadas à entidade pretendem realizar investimentos nos próximos 12 meses. Embora o número represente uma queda de 8 pontos percentuais em relação a março e esteja abaixo dos 71% registrados em abril de 2024, a Abramat destaca a resiliência do setor.
A sondagem, realizada com líderes das empresas associadas, mostra que abril foi um mês de vendas boas ou regulares para 54% das indústrias, enquanto 41% classificaram o desempenho como ruim.
Já para maio, a maioria dos respondentes (50%) espera vendas regulares, com 36% projetando um bom desempenho.
Para o presidente da Abramat, Rodrigo Navarro, os resultados indicam desafios persistentes, mas também confiança no futuro. “Mesmo diante de um cenário econômico ainda instável, vemos que mais da metade das empresas associadas pretende investir, o que demonstra o compromisso contínuo da nossa indústria com a modernização e o crescimento sustentável”, afirmou.
Construção civil mantém projeção de crescimento e mostra sinais de reação no início de 2025
Apesar da leve retração de 0,5% no PIB do setor no primeiro trimestre, a construção civil brasileira iniciou 2025 com sinais de resiliência e boas perspectivas.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) manteve sua projeção de crescimento de 2,3% para o ano, destacando a retomada de programas habitacionais e os investimentos públicos em infraestrutura como motores para os próximos trimestres. O presidente da CBIC, Renato Correia, avalia que o setor passa por uma fase de acomodação após ciclos intensos de expansão, mas segue robusto.
Entre os principais indicadores positivos está o mercado de trabalho.
O setor abriu 654,5 mil novas vagas formais no primeiro trimestre, número inferior ao de 2024, mas ainda acima dos resultados registrados em 2022 e 2023. Além disso, o consumo de materiais típicos da construção teve alta: a produção industrial do setor cresceu 4,9% em janeiro e fevereiro, e o varejo de materiais teve aumento de 6,7% no mesmo período. A venda de cimento também subiu quase 6% no trimestre, alcançando 15,6 milhões de toneladas.
No setor imobiliário, as vendas de imóveis novos avançaram 17% no primeiro trimestre, mesmo com uma queda de 7% nos lançamentos. A redução dos estoques deve abrir espaço para novos empreendimentos ao longo do ano, impulsionados pela introdução da Faixa 4 no programa Minha Casa, Minha Vida. A nova faixa atende famílias com renda de R$ 8 mil a R$ 12 mil e oferece condições de financiamento com juros subsidiados, o que tende a ampliar o acesso à moradia nas regiões metropolitanas.
A confiança dos empresários da construção segue com viés positivo, mesmo ligeiramente abaixo da linha neutra de 50 pontos. As expectativas para novos empreendimentos, compras de insumos e geração de empregos permanecem em níveis elevados. Com participação relevante na economia e responsável por 6,18% dos empregos formais do país, a construção civil demonstra estar preparada para enfrentar os desafios macroeconômicos e sustentar sua trajetória de crescimento ao longo de 2025.
Vendas de cimento caem em abril, mas setor mantém otimismo com obras e infraestrutura
Após um primeiro trimestre positivo, as vendas de cimento registraram queda em abril de 2025.
Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), foram comercializadas 5,2 milhões de toneladas no mês, um recuo de 3% em relação a abril do ano passado. Ainda assim, o acumulado do ano segue em alta: de janeiro a abril, o crescimento foi de 4,2%, impulsionado por fatores como o aquecimento do mercado de trabalho e a expansão do programa Minha Casa, Minha Vida.
O desempenho diário também mostra contrastes: foram 236,8 mil toneladas por dia útil em abril, queda de 4,1% frente a março, mas alta de 5,8% em relação ao mesmo mês de 2024. A confiança do consumidor vem crescendo, e o setor ainda se beneficia de obras iniciadas anteriormente, apesar da redução nos lançamentos imobiliários e do cenário macroeconômico desafiador, marcado por juros altos e inadimplência das famílias.
Mesmo com as incertezas, a indústria aposta na continuidade dos investimentos públicos em habitação e infraestrutura. O uso de cimento em pavimentos de concreto, mais durável e sustentável que o asfalto, é uma das frentes em expansão. Outro impulso pode vir do Plano Clima, iniciativa do governo federal que estabelecerá metas de descarbonização para o setor e deve ser apresentada até a COP30, em novembro.
Direto de Paris: 3 startups ajudando a tornar a construção civil mais sustentável
Por A Economia B*
No último Giro de Notícias, apresentamos os destaques do Barômetro de Construção Sustentável, relatório desenvolvido pela Saint-Gobain que tivemos acesso em primeira mão por termos ido até Paris para cobrir o ChangeNOW, evento que tem como objetivo apresentar soluções para os principais desafios socioambientais da humanidade. Se você não leu, fica a sugestão – está aqui.
Mas não foi “só” isso que apuramos na capital francesa para dividir com você. Rodando pela feira de startups, identificamos três que mostram como o futuro da construção pode ser mais sustentável.
#1 Äerd Lab (Luxemburgo)

A Äerd Lab é um estúdio de inovação que transforma resíduos da construção civil – especialmente a terra retirada de escavações – em tijolos e elementos decorativos de argila impressos em 3D.
Em vez de queimar os tijolos em fornos industriais, como ocorre na produção convencional, a startup adota um processo de secagem natural ao ar livre, que economiza energia e evita a liberação de grandes volumes de CO₂. Essa abordagem reduz em até 70% as emissões e economiza cerca de 500 kWh de energia por tonelada produzida.
As estruturas criadas são respiráveis, regulam a umidade, absorvem poluentes e melhoram a qualidade do ar interno. Também oferecem bom desempenho acústico e podem ser personalizadas com precisão, graças à impressão 3D.
#2 Parastruct (Áustria)

Na construção civil, centenas de toneladas de concreto vão parar no lixo após cada demolição. A startup austríaca Parastruct desenvolveu uma tecnologia que transforma esses resíduos em novos materiais de alto desempenho, reduzindo o uso de cimento virgem e as emissões de carbono.
O processo, que reaproveita o cimento residual presente nos entulhos, já evita a emissão de 250 mil toneladas de CO₂ por ano e economiza cerca de 350 mil toneladas de matérias-primas extraídas da natureza. A empresa oferece um sistema completo, que vai da análise dos resíduos à sua revalorização em componentes prontos para uso em novas construções.
Além de reduzir o impacto ambiental, a solução promete economia de até 90% nos recursos utilizados e uma pegada de carbono até 80% menor em relação aos materiais convencionais.
#3 Bouygues Group (França)

O Bouygues Group aposta em alternativas de baixo custo e alto impacto para adaptar cidades às mudanças climáticas, restaurar ecossistemas urbanos e promover a circularidade na construção civil.
Entre as soluções adotadas está o asfalto VEGECOI, feito com aglomerantes vegetais em vez de derivados de petróleo, o que garante uma redução de até 70% nas emissões de CO₂. A empresa também atua na renovação e requalificação de edifícios existentes, evitando demolições desnecessárias e o uso de novos materiais, como forma de reduzir o desperdício de recursos e prolongar o ciclo de vida das construções.
Desde 2014, estratégias como essas vêm sendo implementadas em bairros vulneráveis de Paris, especialmente em áreas sujeitas a ondas de calor, enchentes e escassez hídrica. Os projetos incluem a introdução de infraestrutura verde, como jardins e telhados vegetados, materiais de baixa emissão e soluções que integram a natureza ao espaço urbano construído. Até agora, 53 projetos foram certificados com o selo BiodiverCity, que reconhece empreendimentos que valorizam a biodiversidade no ambiente urbano.
Quer conhecer outras soluções para construir cidades resilientes, vivas e regenerativas? Leia este artigo que publicamos em A Economia B. Nele, apresentamos 12 iniciativasque podem transformar realidades locais diante da emergência climática.
*A Economia B é uma plataforma de conteúdo jornalístico de negócios voltados a ajudar empresas de diversos setores a contribuírem para a construção de um futuro mais justo, equitativo e regenerativo. Na Celere, entendemos a importância da construção civil nesse processo. Por isso, convidamos A Economia B para trazer mensalmente para o Giro de Notícias uma informação relacionada ao nosso mercado que ajude a promover reflexões sobre como fazer isso na prática.