Com vendas em alta e retomada de obras, o setor da construção inicia 2025 em ritmo positivo, mas já enfrenta sinais de alerta no crédito, nos custos e no consumo
O primeiro trimestre do ano avança para o fim e, com isso, chegam novos dados sobre o desempenho da construção civil no Brasil. Confira a seguir algumas das notícias que marcaram o setor em março:
- Faturamento da indústria de materiais recua 2,2% em fevereiro.
- Indústria do cimento cresce 7,5% em fevereiro.
- Índice Nacional da Construção Civil varia 0,23% em fevereiro.
- Cenário econômico pode frear crescimento da construção em 2025.
- Mercado imobiliário cresce 11,8% em 2024.
Além disso, A Economia B apresenta um cimento reciclado brasileiro que pode reduzir em até 61% as emissões da indústria.
Boa leitura!
Faturamento da indústria de materiais recua 2,2% em fevereiro
A indústria de materiais de construção registrou uma queda de 2,2% no faturamento em fevereiro, devolvendo parte do crescimento observado em janeiro, segundo a nova edição do Índice Abramat/FGV. O desempenho foi influenciado pela redução de 0,8% nos materiais básicos e de 3,6% nos materiais de acabamento, em valores deflacionados, em relação ao mês anterior.
Na comparação com fevereiro do ano passado, porém, o setor apresentou alta de 1,6%, indicando continuidade da trajetória positiva no desempenho anual.
Mesmo com a oscilação, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) mantém a projeção de crescimento para 2025. “Mantemos nossa projeção de alta de 2,8% para o ano, refletindo a resiliência do setor e a expectativa de recuperação gradual da economia”, afirmou Rodrigo Navarro, presidente da entidade.
Indústria do cimento cresce 7,5% em fevereiro
A indústria do cimento registrou forte crescimento em fevereiro, com vendas totais de 5,1 milhões de toneladas, um avanço de 7,5% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC).
No acumulado do ano, o setor apresenta alta de 6,4%, impulsionada pelo aquecimento do mercado de trabalho e do bom desempenho do mercado imobiliário, com destaque para o programa Minha Casa, Minha Vida.
Apesar do cenário positivo, a falta de mão de obra e o aumento dos custos preocupam o setor, afetando a confiança da construção civil, que atingiu o menor nível desde março de 2022.
Além disso, a redução da oferta de crédito via SBPE e FGTS pode comprometer novos investimentos e diminuir o ritmo de lançamentos imobiliários, impactando a demanda por cimento.
Diante desse contexto, a indústria mantém um otimismo moderado, apostando na retomada de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no uso ampliado de pavimentação de concreto. No entanto, segue atenta aos desafios macroeconômicos, como a alta da Selic e a desvalorização do câmbio, que podem dificultar o crescimento ao longo do ano.
Índice Nacional da Construção Civil varia 0,23% em fevereiro
O Índice Nacional da Construção Civil (SINAPI) registrou variação de 0,23% em fevereiro, uma desaceleração em relação ao índice de janeiro, que foi de 0,51%.
No acumulado de 12 meses, a alta foi de 4,39%, levemente acima dos 4,31% registrados no período anterior. O custo médio da construção por metro quadrado subiu de R$ 1.799,82 para R$ 1.803,90, sendo R$ 1.039,82 referentes a materiais e R$ 764,08 à mão de obra.
A parcela dos materiais teve aumento de 0,29% no mês, enquanto a mão de obra variou 0,14%, uma desaceleração significativa em relação à taxa de 0,97% registrada em janeiro, impactada pela ausência de novos acordos salariais.
O desempenho regional mostrou que o Sudeste teve a maior variação, com 0,31%, seguido pelo Norte (0,25%), Sul (0,24%), Centro-Oeste (0,16%) e Nordeste (0,13%).
Entre os estados, o Rio Grande do Norte liderou a alta no mês, com variação de 0,63%, impulsionada pelo aumento nos custos dos materiais.
O setor segue monitorando os impactos da inflação e da disponibilidade de crédito, fatores que podem influenciar os próximos resultados do índice.
Cenário econômico pode frear crescimento da construção em 2025

Apesar do bom desempenho da construção civil em 2024, o setor pode crescer abaixo das expectativas em 2025 diante de um cenário macroeconômico mais desafiador. A avaliação foi feita durante a Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, realizada em 12 de março, e publicada no site da entidade com base nas análises de especialistas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e lideranças do setor.
Entre os fatores de risco, destacam-se a inflação elevada, a manutenção da taxa Selic em patamar alto, o enfraquecimento do consumo das famílias e a expectativa de retração do crédito imobiliário com recursos da poupança. Apesar disso, o programa Minha Casa, Minha Vida deve continuar sustentando parte da demanda.
A economista Ana Maria Castelo, da FGV, lembrou que o setor teve alta de 4,3% no PIB de 2024, com destaque para edificações e infraestrutura. Para 2025, no entanto, o crescimento pode ficar abaixo dos 3% projetados anteriormente.
O professor Robson Gonçalves, também da FGV, apontou que a política econômica brasileira vive um momento de contradição: enquanto o Banco Central tenta frear a inflação elevando os juros, o governo amplia os gastos, o que tende a pressionar ainda mais os preços. A proximidade das eleições de 2026 pode acirrar a instabilidade, e há expectativa de que a Selic suba ainda mais, afetando o poder de compra e a confiança dos consumidores.
No setor de materiais de construção, a entrada de aço chinês no mercado brasileiro tem pressionado a indústria siderúrgica local, levando à discussão sobre possíveis aumentos nas tarifas de importação. No curto prazo, os custos dos insumos devem seguir com ligeira elevação em relação aos índices de inflação, segundo projeções da FGV.
Diante desse cenário, o setor da construção adota uma postura cautelosa, avaliando com atenção os riscos e as oportunidades nos próximos meses.
Informações: SindusCon-SP – “Cenário econômico pode levar construção a crescer menos que o esperado”
Mercado imobiliário cresce 11,8% em 2024
O mercado imobiliário brasileiro registrou um crescimento de 11,8% nas vendas de novos imóveis em 2024, atingindo o maior patamar da série histórica desde 2014, segundo o indicador ABRAINC-FIPE.
O avanço foi impulsionado tanto pelo segmento de Médio e Alto Padrão (MAP) – que teve crescimento de 23,8% no valor das vendas e uma expansão de 42% nos lançamentos – quanto pelo Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que apresentou um aumento de 13,1% nas vendas e um crescimento recorde de 25,2% nos lançamentos.
A redução dos estoques foi outro fator positivo, com a duração dos estoques do MAP caindo para 13 meses e do MCMV para 9,8 meses, níveis considerados saudáveis. Além disso, a taxa de distratos no MAP manteve-se baixa, refletindo os efeitos positivos da Lei dos Distratos.
Para 2025, o setor segue otimista, mas reforça a importância de preservar os recursos do FGTS, essenciais para o financiamento da habitação popular e de obras de infraestrutura.
Segundo Luiz França, presidente da ABRAINC, é fundamental adotar medidas que mantenham o crédito acessível às famílias de baixa renda, além de ampliar as opções de funding para o segmento de médio e alto padrão, especialmente diante do cenário de juros elevados.
Cimento reciclado brasileiro pode reduzir em até 61% as emissões da indústria
*Por A Economia B
Um novo estudo desenvolvido por engenheiros da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, aponta uma solução promissora para dois grandes desafios da construção civil: o alto volume de resíduos e as emissões de carbono do cimento convencional.
Publicada no periódico ACS Sustainable Chemistry & Engineering, a pesquisa mostra que é possível reciclar resíduos de cimento provenientes de demolições e transformá-los em um novo produto de alta qualidade, com desempenho semelhante ao do cimento Portland tradicional e com emissões até 61% menores.
A tecnologia, chamada de cimento termoativado reciclado, consiste em aquecer o resíduo em pó a 500 °C, restaurando sua capacidade de reagir com água e atuar como aglomerante. Misturado a pequenas quantidades de cimento Portland ou calcário finamente moído, o material apresenta resistência e trabalhabilidade compatíveis com os padrões da indústria.
Além de ser mais sustentável, o processo pode transformar cidades em ecossistemas mais circulares: materiais de demolições poderiam ser reinseridos em novas obras, reduzindo a dependência de matérias-primas virgens. Os pesquisadores estimam que cerca de 1 gigatonelada de concreto em pó pode ser reaproveitada por ano, apenas considerando os resíduos globais.
Apesar do potencial, os cientistas alertam para os desafios de escala: seria necessário melhorar a triagem dos resíduos de obra, adaptar os códigos de construção e estimular a adoção de normas com foco em desempenho, em vez de fórmulas fixas.
Embora ainda existam desafios para ampliar o uso dessa tecnologia, o estudo revela que um futuro mais sustentável para a construção civil não apenas é possível – ele já começou a ser construído. Iniciativas como essa apontam caminhos concretos para transformar resíduos em soluções e cidades em espaços mais circulares, inteligentes e regenerativos.
*A Economia B é uma plataforma de conteúdo jornalístico de negócios voltados a ajudar empresas de diversos setores a contribuírem para a construção de um futuro mais justo, equitativo e regenerativo. Na Celere, entendemos a importância da construção civil nesse processo. Por isso, convidamos A Economia B para trazer mensalmente para o Giro de Notícias uma informação relacionada ao nosso mercado que ajude a promover reflexões sobre como fazer isso na prática.