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Trabalho colaborativo em BIM e a importância do alinhamento entre as áreas de projeto e orçamento

Trabalho colaborativo em BIM e a importância do alinhamento entre as áreas de projeto e orçamento

Entenda como a colaboração contínua entre projetistas e orçamentistas é crucial em projetos BIM. Além disso, saiba o que é preciso alinhar entre essas duas áreas desde o início

Complexo, fragmentado e incerto. Esses são alguns adjetivos que utilizamos frequentemente para descrever os processos de construção. Uma questão central que contribui para esse cenário é a falta de comunicação e colaboração entre os diferentes atores envolvidos no desenvolvimento de uma obra.

O BIM (Building Information Modeling) surge como uma solução promissora para eliminar essa barreira e tornar todo o processo mais colaborativo. Com uma abordagem integrada, o BIM possibilita que todas as áreas interajam, reduzindo riscos e retrabalhos por conta da falta de comunicação.

Esse foi um dos temas centrais da sexta edição do Incorpod, webinar promovido pela Celere para debater assuntos relevantes para profissionais que atuam no setor de Incorporação e Construção Civil.

Durante o evento, Raphael Chelin (engenheiro civil e CEO da Celere) conversou com Mauro de Couet (diretor executivo e sócio da Alfa Engenharia) e Raquel Fachini (coordenadora de projetos complementares e BIM na Alfa Engenharia).

Os especialistas falaram sobre a importância de um alinhamento inicial entre projetistas e orçamentistas para reduzir retrabalhos, melhorar a operação e aumentar a produtividade no setor da construção.

Confira os destaques desse debate!

A falta de confiança no BIM no mercado de construção

Raphael Chelin abriu o Incorpod destacando uma pesquisa da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) que indica que cerca de 61% das incorporadoras já coordenam seus trabalhos na plataforma BIM.

Raphael ChelinContudo, alerta o CEO da Celere, esse recorte não necessariamente reflete a realidade de todo o mercado. “Existem muitas empresas menores e menos estruturadas, que não são associadas à Abrainc, e que enfrentam dificuldades na adoção do BIM”, frisa.

O engenheiro revela que um mapeamento feito pela Celere evidencia a discrepância na adoção do BIM.

O estudo, que analisou 273 empresas buscando entender o nível de maturidade no uso de BIM e nas práticas de gestão, descobriu que:

  • 72% das empresas utilizam BIM, embora muitas o adotem apenas para etapas específicas, como arquitetura ou instalações, sem uma integração completa.
  • Somente 4% das empresas analisadas utilizam os quantitativos e informações do BIM durante toda a obra – ou seja, para atividades como planejamento, contratação e acompanhamento de terceiros.
  • A maioria das empresas usa o BIM apenas na fase de orçamento, limitando o potencial de integração e otimização.

Além disso, 18% das empresas (ou 25% das que usam BIM) conseguem extrair quantitativos diretamente dos modelos BIM. Desse grupo, uma parcela revisa e ajusta essas informações antes de usá-las para orçamento, demonstrando a falta de confiança nos dados.

Por fim, somente 7% das empresas (ou 39% das que usam BIM) afirmaram confiar totalmente nos quantitativos extraídos do BIM para orçamentação.

Na visão de Raphael, é possível atribuir essa falta de confiança a dois fatores:

  • Falta de alinhamento entre projetistas e orçamentistas;
  • Uso parcial do BIM nas disciplinas do projeto.

“Não confiam 100% porque não há um alinhamento claro. E tem uma coisa que é óbvia, mas o óbvio precisa ser dito: da mesma forma que a Celere, sendo uma empresa de orçamento, não sabe projetar, provavelmente um projetista também não tem todo o conhecimento para fazer orçamento. São disciplinas complementares, mas distintas; precisam caminhar juntas”, comenta.

As diferentes fases do ciclo de incorporação e a integração BIM

Durante o Incorpod, os especialistas da Alfa Engenharia detalharam cada etapa do projeto de construção e incorporação, indicando como a integração BIM permite aumentar a colaboração em cada uma dessas fases – o que, por sua vez, torna o projeto muito mais eficiente. 

As diferentes fases do ciclo de incorporação e a integração BIM

Mauro de Couet, diretor executivo da Alfa, afirma que, idealmente, deve-se introduzir o BIM logo no estudo de massa e no estudo preliminar. Afinal, assim, é possível garantir o alinhamento das informações desde o início.

Raquel Fachini, coordenadora de projetos complementares e BIM na Alfa, explica que o BIM ajuda a alinhar expectativas com os clientes, mostrando a integração das soluções ainda na fase de projeto. A especialista destaca que o BIM permite compatibilizar informações e coordenar os elementos necessários nessas etapas iniciais de desenvolvimento.

“Com o BIM, antecipamos interferências entre as diferentes disciplinas, reduzindo retrabalhos durante a execução e trazendo mais segurança ao processo. A compatibilização em BIM também permite coordenar com precisão as instalações e sistemas complementares desde o início, minimizando erros e assegurando que as informações fluam de forma mais integrada entre as equipes”, aponta.

Mauro também comenta que a utilização do BIM desde as primeiras etapas de concepção permite que o modelo gerado seja usado ao longo de todo o ciclo de vida do projeto, desde o estudo de viabilidade até a construção.

“Quando você projeta em BIM, o objetivo é construir virtualmente toda a obra antes de iniciar a execução. Isso permite identificar antecipadamente quaisquer alterações e interferências antes do início da obra. Assim, quando o projeto em BIM é entregue, ele não deve sofrer alterações durante a execução – pelo menos não por falhas de projeto. O objetivo é ter um projeto fiel e que se execute com precisão”, comenta.

Ainda falando sobre o uso do BIM ao longo do ciclo de incorporação, Mauro conta que esse processo de gestão integrada pode ser útil até mesmo no pós-obra.

“Sempre digo que é preciso pensar a edificação como um veículo, onde o cliente deve fazer manutenções periódicas para não perder a garantia e prolongar a vida útil da obra. O BIM é essencial nesse aspecto, pois um as-built em BIM permite visualizar facilmente essas futuras manutenções e até definir parâmetros para elas”, indica.

BIM e custos de obras: a importância do alinhamento entre as áreas de projeto e orçamento

BIM e custos de obras: a importância do alinhamento entre as áreas de projeto e orçamento

Como lembra Raphael, o orçamento do projeto evolui conforme cada etapa do ciclo de incorporação. No início, é paramétrico, mas à medida que mais informações e detalhes são incluídos no modelo BIM, o orçamento se baseia cada vez mais nos dados concretos fornecidos pelo projeto.

E isso, explica o executivo da Celere, exige uma integração contínua e eficiente e um alinhamento claro entre as áreas de orçamento e projeto.

“Se quisermos estar 100% conectados e ter um orçamento diretamente dos modelos em cada uma dessas etapas, é fundamental que façamos alguns acordos. Precisamos ‘combinar com o zagueiro antes’. Por exemplo: nós, da Celere, que fazemos orçamentos, precisamos alinhar com a Alfa Engenharia, que desenvolve o projeto, para que, quando finalizem, possamos reutilizar esses dados”, salienta.

Ou seja, para que a equipe de orçamento possa reutilizar as informações que projetistas inserem no BIM, é essencial estabelecer acordos iniciais sobre o que deve estar no modelo. Isso assegura que o modelo BIM será realmente útil para a geração automática e precisa de orçamentos, evitando retrabalhos e perdas de tempo.

Segundo Raphael, estes são alguns dos alinhamentos iniciais mais importantes nesse sentido:

Detalhamento de itens implícitos 

Nem tudo o que precisa ser orçado tem que estar modelado diretamente no BIM. Muitas vezes, dá para inferir informações a partir de outros dados modelados, o que evita sobrecarregar o modelo com detalhes excessivos. 

Por exemplo, é possível calcular cabos com base nos conduítes, e inferir suportes para tubulações pelo comprimento e localização das tubulações.

Então, é importante alinhar o que será modelado e o que será inferido para evitar trabalho desnecessário. Dessa forma, o acordo inicial deve definir claramente os parâmetros e dados que serão extraídos para o orçamento, evitando confusão e garantindo que o modelo atenda às necessidades de todos os envolvidos.

Padrões de nomenclatura e parâmetros

As tabelas e parâmetros utilizados pelos projetistas precisam corresponder aos usados pela área de orçamento, e vice-versa. Isso inclui a necessidade de deixar “espaços” (os parâmetros) no modelo, onde será possível inserir os dados. Caso um parâmetro específico não exista no modelo que chega ao orçamento, a inserção desses dados não será possível. 

Inclusive, Raphael conta que, para facilitar esse processo, a Celere desenvolveu automações que inserem dados automaticamente no modelo, mesmo que a equipe de projetistas não os tenha incluído.

No entanto, ele alerta que para que essas automações funcionem adequadamente, é fundamental que os nomes dos parâmetros sejam consistentes e padronizados. Isso garante que o fluxo de dados seja contínuo e preciso em todas as etapas do projeto.

Critérios de medição e contratação

Geralmente, o cliente define os critérios que especificam como medir e contratar serviços ao longo do projeto, enquanto a equipe de orçamento faz os detalhamentos. Esse processo impacta diretamente a forma como o modelo BIM precisa ser construído, pois certos detalhes e configurações são necessários para garantir que as medições e contratações sejam precisas.

Por isso, os orçamentistas precisam transmitir aos projetistas quais aspectos específicos é preciso incluir no modelo, para que ele contemple as necessidades de medição e facilite o acompanhamento de quantidades e custos ao longo da obra.

Sem esse alinhamento, o modelo pode não atender aos critérios do cliente. Isso, por sua vez, pode levar a retrabalhos e ajustes, aumentando tempo e custos.

Quer saber mais? Assista ao Incorpod #6:

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